Sofrer até ao fim

Depois de mais uma época atribulada, onde o pesadelo do eventual regresso à II Liga pairou durante muitas jornadas, a Académica de Coimbra parte para mais uma temporada com o objectivo de sempre: garantir a manutenção. José Viterbo, o homem apelidado de salvador no ano passado, manteve-se no comando técnico dos Estudantes e procurou criar um plantel com mais qualidade do que aquele montado por Paulo Sérgio. A opção pelo mercado nacional foi clara, como comprovam as apostas em Emídio Rafael, Pedro Trigueira, Rabiola ou nos jovens Leandro e Gonçalo Paciência, provenientes do FC Porto por empréstimo, mas prevêem-se muitas dificuldades para o clube conimbricense evitar a despromoção. Embora tenha existido um esforço para melhorar o conjunto de jogadores à disposição do treinador, as lacunas no elenco são evidentes. Ainda assim, José Eduardo Simões e os adeptos da Briosa acreditam que o objectivo delineado no início do ano desportivo é possível de alcançar, sendo que a presença de um maior número de adeptos no estádio poderá ser crucial. Se olharmos para os clubes da segunda metade da tabela, a Académica é daqueles que menos aproveita a massa adepta que possui (contando com os verdadeiros estudantes da cidade que necessariamente se unem à causa), de tal forma que é frequente observar-se o Cidade de Coimbra despido nos jogos caseiros. Assim, certamente que melhores prestações da turma do “Zé do Bigode” poderão atrair mais pessoas ao estádio e possibilitar uma melhor campanha da Académica neste campeonato. 

Académica versão 2015-16:
Entradas: Pedro Trigueira (União da Madeira), William Gustavo (Grémio Anápolis), Emídio Rafael (Estoril), Nii Plange (V.Guimarães), Leandro Silva (FC Porto), Selim Bouadla (Debreceni), Rabiola (Penafiel), Gonçalo Paciência (FC Porto)
Saídas: Cristiano, Aníbal Capela, Esgaio, Lino, Marcos Paulo, Jimmy, Lucas Mineiro, Salim Cissé, Salli, Magique, Diallo, Nzola
Objectivo: Manutenção
11 base: Pedro Trigueira, Aderlan, João Real, Ricardo Nascimento, Emídio Rafael, Obiora, Leandro Silva, Ivanildo, Bouadla, Rui Pedro, Gonçalo Paciência
Ponto Forte: Meio-campo ofensivo – No apoio ao ponta de lança, Viterbo conta com várias soluções de bom nível e certamente que terá aqui uma boa dor de cabeça. Rui Pedro deverá ser a primeira opção para a posição 10, sendo que se conseguir acrescentar a sua técnica e criatividade elevará o ataque dos Estudantes para outro patamar. Por outro lado, Ivanildo e o reforço Bouadla (que também pode jogar mais por dentro) acrescentam qualidade nos flancos, o experiente Marinho acabará sempre por ser útil, apesar de já não ter a velocidade que lhe permitia criar problemas a qualquer defesa no futebol português; Plange (que também pode ser utilizado a lateral) fracassou em Guimarães, mas num clube com menor pressão poderá obter um melhor rendimento e, por fim, Hugo Seco partirá atrás na hierarquia, mas é um jogador que Viterbo aprecia e que consegue por vezes agitar os jogos quando salta do banco.
Ponto Fraco: Sector defensivo – Apesar da entrada de Pedro Trigueira para a baliza e de Emídio Rafael e William Gustavo para a defesa, a verdade é que o sector defensivo parece ser mesmo a maior dor de cabeça para Viterbo. Trigueira, que até pode surpreender, não tem experiência de I Liga e Lee já demonstrou que não consegue transmitir segurança aos seus companheiros. Por outro lado, Aderlan, apesar da boa técnica e qualidade nas bolas paradas (remata bem), tem grandes lacunas defensivas, João Real tem um historial clínico grave, Ricardo Nascimento foi uma desilusão no ano passado (e começou esta época a ser expulso) e as alternativas não dão garantias. Por fim, Emídio Rafael acrescenta qualidade à esquerda, mas o mesmo não se pode dizer dos seus suplentes.
Jogador Chave: Rui Pedro – Apesar do grande arranque no ano passado, a verdade é que o médio ofensivo/avançado formado no FC Porto raramente teve a confiança de Paulo Sérgio para comandar o ataque da Académica. No entanto, desde que Viterbo chegou, o ex Cluj tem assumido um papel mais preponderante e por ele poderá passar o maior ou menor sucesso dos Estudantes. Em termos técnicos, é claramente um jogador acima da média e se conjugar isso com uma maior entrega ao jogo e uma maior regularidade exibicional parece claro que será um indiscutível nesta equipa e um dos seus melhores jogadores.
Jogador a Seguir: Gonçalo Paciência – Sem espaço nos dragões, Lopetegui e a direcção do FC Porto entenderam que o melhor para o filho de Domingos seria rodar num clube de I Liga. A Académica prontificou-se a recebê-lo e Viterbo certamente que, apesar da concorrência de Rabiola e, de certo modo, de Rafael Lopes, lhe concederá um lugar cativo na frente de ataque. Paciência, com a sua técnica, capacidade física e poder de finalização poderá ser o 9 que a formação coimbrã não teve nos últimos tempos, tal era a irregularidade dos seus avançados. Poderá enfrentar o problema de nunca se ter visto forçado a jogar tão longe da baliza adversária e de durante uma partida dispor de escassas ocasiões para marcar, mas parece claro que, até pela sua capacidade para segurar a bola e transportá-la, será uma arma muito importante para a Briosa.
Previsão: 16º lugar – A luta pela manutenção será intensa e disputada por várias equipas, mas acreditamos que a Académica conseguirá manter-se na I Liga, pesem as dificuldades. Viterbo poderá ter um papel importante ao nível da mobilização de massas e de moralização dos jogadores, embora as suas limitações técnico-tácticas sejam notórias (algo que até pode levar ao seu despedimento), e a direcção fez um esforço para encontrar alguns jogadores com qualidade no mercado e não apenas uma série de contratações sem um perfil visível. Diga-se ainda que terá de existir um melhor aproveitamento do factor casa e que existem fragilidades evidentes, pelo que a estadia acima da linha de água será certamente arrancada a ferros.

Visão do Leitor: Rodrigo Ferreira

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