Jogar à Atlético e fé no Ronaldo

França 2016 marca a sexta participação consecutiva de Portugal em fases finais de Europeus. Desde 1996, por coincidência a primeira edição a albergar 16 equipas, que a selecção nacional não falha um evento. Desta vez nem foi preciso recorrer ao playoff para carimbar presença, mas mesmo assim a fase de apuramento foi longe de ser um passeio. Um derrota caseira com a Albânia levou à saída de Paulo Bento, substituído pelo Engenheiro do Penta, Fernando Santos. Imediatamente sentiram-se ventos de mudança, com o regresso de proscritos como Ricardo Carvalho ou Bosingwa, e a chamada de elementos até então ignorados, como José Fonte. Os restantes sete jogos saldaram-se em vitórias, algumas delas conseguidas pela margem mínima e sem brilhantismo exibicional, que colocaram Portugal no primeiro posto do grupo, com vantagem confortável sobre todos os oponentes. A selecção parte para França integrada, teoricamente, num segundo grupo de favoritos, atrás de Espanha, Alemanha e França. A equipa é, individual e colectivamente, superior a grande parte dos conjuntos presentes, e tem certos argumentos que lhe permitem ser uma ameaça para os restantes. A filosofia de jogo deve passar pela coesão defensiva e pela eficácia a fechar os caminhos para a sua baliza, fazendo depois aparecer o valor das individualidades na frente. O brilhantismo que fez muitos apelidarem a selecção lusa de "Brasil da Europa" não passou a Alfândega, o Engenheiro é um homem consciente das limitações existentes (até das próprias), pelo que não haverá espaço para belezas arquitectónicas ou artes plásticas, ficando aquelas enterradas sob diversas camadas de resultadismo e pragmatismo. Contra adversários mais cotados, dificilmente veremos Portugal assumir o jogo e ocupar o meio terreno contrário, optando antes por defender atrás e lançar os homens móveis da frente. Aliás, uma das alterações promovidas por Santos foi a transformação do típico 4x4x3 num 4x4x2, semelhante ao que Simeone utiliza no Atlético, de modo a "proteger" Cristiano e a minimizar a ausência de um ponta de lança de referência. O grupo escolhido tem uma particularidade: talvez pela primeira vez de há muito, não existe um jogador no auge das suas capacidades a jogar num grande clube dos melhores campeonatos. Os escolhidos vão de jogadores mais rodados, mas já no início ou em pleno percurso descendente, até jovens a iniciar esse mesmo percurso, como é exemplo Renato Sanches.

A Estrela: Cristiano Ronaldo (Avançado, 31 Anos, Real Madrid) - Indiscutivelmente a maior figura da selecção nacional. Mesmo sem o fulgor de outros tempos, e tendo perdido algumas das qualidades físicas e técnicas que o caracterizavam, não deixa de ser a grande referência da equipa. Tal como no Mundial, parece chegar ao torneio em claro défice físico, fruto de mais uma época extenuante, ainda mais agravada por lesões, mas mesmo esse factor não deve impedir a sua titularidade, nem o seu papel central na estratégia da equipa. Afinal, Ronaldo é e será a referência ofensiva do conjunto, até porque a capacidade de fazer golos, seja com os pés ou de cabeça (é o único cabeceador letal dos que viajam para França), é ímpar no elenco às ordens de Fernando Santos. Talvez por isso, o Engenheiro tenha sido "obrigado" a um exercício de reverse engineering, de modo a acomodar o modelo de jogo às qualidades e defeitos de Ronaldo. De qualquer modo, não se espere de CR7 que carregue a equipa às costas como fez no passado, ele parece reservado para tarefas de finalização, e não para criação de desequilíbrios. O desgaste em tarefas defensivas será reduzido ao mínimo, e a sua área de acção deve limitar-se ao último terço, em terrenos onde sem dúvida ainda é capaz de fazer estragos.

XI Base: Patrício, Vieirinha, Pepe, Ricardo Carvalho, Eliseu; Danilo, Moutinho, André Gomes, João Mário; Nani e Ronaldo

Jogadores Chave: Ricardo Carvalho (Defesa, 38 Anos, Mónaco) - a sua condição física pode não lhe permitir manter um ritmo alto ao longo do torneio, mas a classe do central do Mónaco ultrapassa qualquer handicap. Ao contrário de centrais que fazem do cabedal a principal arma, Carvalho soube envelhecer e manter intactas as qualidades que fizeram dele um dos melhores do Mundo: leitura de jogo, posicionamento, antecipação. O seu regresso fez toda a diferença em relação ao passado recente da selecção; Pepe (Defesa, 33 Anos, Real Madrid) - a par de Ronaldo, o único regular em grandes equipas europeias. Deixou má imagem no último Mundial, cedendo às provocações de Muller e deixando uma já de si débil equipa ainda mais fragilizada. Os adversários conhecem-no, e não se devem abster de explorar essa lacuna mental que teima aparecer de tempos a tempos, ainda mais numa competição em que os árbitros não facilitam. Em condições normais, é o melhor central nacional, e um dos melhores europeus; possui capacidade de jogar longe da baliza, é forte nos duelos, e tem uma saída de bola essencial a quem pretende jogar em contra-ataque. Nani (Avançado, 29 Anos,  Fenerbahce) - mesmo longe dos tempos áureos de Manchester, continua a ser aposta do seleccionador para jogar na frente. O ex-Sporting não possui a frescura física que já teve, e algumas vezes parece alhear-se do jogo, mas tecnicamente ainda é do melhor que Portugal tem para apresentar. Dele esperam-se os tais desequilíbrios, ora em jogadas individuais, ora municiando o seu colega da frente, Ronaldo. A capacidade de reter a bola, ou de progredir com ela, fazem dele uma peça fulcral na manobra atacante, que deve primar mais pela qualidade do que pela quantidade. Contra si joga o facto de se exigir mais presença em zona de finalização, nomeadamente entre centrais adversários, algo que não é inato no seu jogo.

Jovem a seguir: João Mário (Médio, 23 Anos, Sporting) - O jovem leão deve ter lugar cativo no lado direito do meio-campo luso. Dono de qualidades técnicas inegáveis, em termos de transporte de bola e passe, é nesta altura um jogador completo tacticamente, e tem ainda a seu favor o facto de estar habituado ao modelo de quatro médios. Dele espera-se capacidade de levar a bola para o ataque após a recuperação, e acutilância no último passe ou no remate, capítulo em que evoluiu bastante durante a temporada que findou. As suas prestações devem ser seguidas com atenção não apenas pelos adeptos portugueses, mas também pelos olheiros europeus. Veremos se a necessidade de se mostrar não acaba por prejudicar o seu rendimento.

Prognóstico do VM: Semi-finalista

Convocados: Guarda-redes: Rui Patrício (Sporting), Eduardo (D. Zagreb) e Anthony Lopes (Lyon); Defesas: Cédric (Southampton), Vieirinha (Wolfsburgo), Bruno Alves (Fenerbahçe), Pepe (Real Madrid), Ricardo Carvalho (Monaco), José Fonte (Southampton), Eliseu (Benfica) e Raphaël Guerreiro (Lorient); Médios: Danilo Pereira (FC Porto), William Carvalho (Sporting), João Moutinho (Monaco), Renato Sanches (Benfica), Adrien Silva (Sporting), João Mário (Sporting) e André Gomes (Valencia); Avançados: Rafa (Sp. Braga), Nani (Fenerbahçe), Cristiano Ronaldo (Real Madrid), Quaresma (Besiktas) e Éder (Lille).

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Nuno R.

PS - Com o Euro'2016 quase a começar, a UEFA também criou um Fantasy em tudo semelhante ao das provas de clubes (este até parece estar mais funcional). Para se inscreverem na nossa Liga terão que fazer o registo no site da UEFA e depois criarem a vossa equipa (aqui). Após terem montado o plantel, clicam no separador "Leagues", e introduzem o código no 64264PZB no "Join a League".

Grupo A:
Roménia
Albânia
Suíça
França
Grupo B:
País de Gales
Rússia
Eslováquia
Inglaterra
Grupo C
Alemanha
Ucrânia
Polónia
Irlanda do Norte
Grupo D
Espanha
República Checa
Turquia
Croácia
Grupo E
Bélgica
República da Irlanda
Suécia
Itália
Grupo F
Portugal
Islândia
Hungria
Áustria

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