As 10 desilusões da época em Portugal

Chegados ao fim de (mais) uma grande temporada futebolística, é hora de analisar o desempenho dos principais intervenientes: os jogadores. Num ano marcado por revelações e confirmações, também houve espaço para as deceções. Sendo apenas considerados jogadores com passado no futebol nacional mas que, por diversos motivos, não renderam o esperado, estas são as 10 maiores desilusões do ano em Portugal:

Aboubakar (FC Porto) – De linhagem em linhagem bíblica, o FC Porto habituou os amantes do futebol a pontas-de-lança de craveira internacional. Livre de seguradora e capaz de entrar no lote sagrado parecia Aboubakar. A época 14/15 do camaronês serviu para despoletar sentimentos lenitivos no mais cético adepto azul e branco. A capa de arma secreta assentava-lhe que nem “um abanar de rede” e a saída de Jackson parecia mitigada por uma dor depiladora. O golo aparecia com naturalidade: não se sabia como, não se sabia quando, mas havia convicção de que a caixa de Pandora seria aberta pelo dianteiro. A matemática do ludopédio alega que o camisa 9 duplicou o número de golos da transata temporada (de 9 para 18). No entanto, salienta que um terço dos tentos aconteceu nos primeiros cinco jogos oficiais. A média de 0.44 golos, aliada a uma quebra de rendimento extra-golo fez (Lop…) a turma portista avançar para a contratação de Suk – abono de família do Sado. O lugar cativo esfumou-se e, para lá do sul-coreano, há um novo menino-bonito a emergir lá para os lados do Norte. A época coletiva desinspirada pode jogar a favor de Vincent, mas, na ótica da égide portista, novos projéteis podem estar na mira…
António Xavier (Marítimo) – Época desapontante do sub-23 maritimista. O esquerdino tinha deixado boas indicações na época anterior, com uma capacidade de desequilíbrio e irreverência acima da média. No entanto, a temporada não foi de piromania para o português, longe das primeiras escolhas de Nelo Vingada. Jogou pouco mais de 800 minutos com a camisola dos verde-rubros e apenas deu o destino ideal à redondinha numa ocasião.
Carlos Mané (Sporting) – Um toque de calcanhar como técnica de sobrevoo sobre o último oponente. É Carlos, é Mané a brilhar na Next Generation Series, é a nova coqueluche do Sporting Clube de Portugal. Os tempos são outros, ‘futebol é momento’ e os laivos da temporada parecem ser de retrocesso. O extremo (?) só pareceu estar verdadeiramente nas contas de Jesus quando a saída para o Mónaco parecia consumada. O técnico travou a saída, mas o drifting alternativo continuou a pertencer a Gelson. A colocação do jogador na zona central (dizem alguns que é onde o motor trabalha melhor) raras vezes foi testada na equipa principal. Mané é um agitador, mas dá a sensação que, neste momento, não cabe no plantel leonino. Seguir-se-á um empréstimo (ou haverá alguém disposto a dar os exigidos 15M?).
Filipe Augusto (Sp. Braga) – Com currículo rocambolesco (já conheceu quatro clubes com 22 anos), o médio defensivo/centro ficou aquém das expetativas na turma de Paulo Fonseca. Atrás de nomes como Mauro, Luiz Carlos e Vukčević na hierarquia, o internacional jovem canarinho não termina a temporada com o sentimento de dever cumprido (uma lesão grave também não ajudou). A bola cintila no seu pé esquerdo, mas parece faltar alguma consistência para subir um degrau qualitativo.
Gonçalo Paciência (Académica) – A protagonizar ficção, Gonçalo Paciência seria forte candidato a personagem que está “no local errado à hora errada”. A opção dos dirigentes portistas pela cedência à Académica acabou por ser infrutífera para o internacional esperança, que não encontrou na turma conimbricense uma aliança à sua evolução. Num projeto contranatura, o avançado foi confrontado com situações excessivas de cair na faixa, segurar a bola, ou até passar jogos com a tenda montada na área contrária. A ideia transluzida é que Paciência precisa de uma equipa mais dominadora, que lhe permita entrar em ação durante tempo significativo e com outra margem para alvejar a baliza. Quatro golos não se parecem coadunar com a qualidade de um jovem que precisa de fazer dos rasgos uma constante buliçosa para os últimos redutos contrários.
João Afonso (Vit. Guimarães) – Uma ascensão meteórica fez do mestre académico uma das revelações da primeira metade do campeonato da última época. Nas cogitações do Sporting (os saudosistas enaltecerão a limpeza e a forte competição dada aos pássaros pelo jogador no encontro frente aos leões), o defesa-central luzia pelo poderio físico e marcação cerrada aos atacantes, fortalecendo uma defesa ínvia do Vitória. O estado de graça dos vimaranenses foi decrescendo paulatinamente e o ex-Benfica Castelo Branco foi largando o pedestal. Esperava-se uma época de reafirmação do central, mas as expetativas saíram goradas, com o português a envergar inclusivamente a camisola da equipa B por três ocasiões.
Marcano (FC Porto) – Um dos fetiches de Julen Lopetegui. O ex-Rubin Kazan não parece nutrir a capacidade para seguir as pisadas da nata dos centrais portistas, apresentando algumas lacunas no ponto de vista do posicionamento (apesar de aduzir um jogo aéreo de alguma qualidade e uma saída de bola razoável). Formou com Indi, antes de se lesionar, uma dupla atípica de canhotos, o que gerou alguma desconfiança. Na debandada que se prevê, o espanhol não parece ter muita margem de manobra no último setor azul e branco e até há quem diga que os centrais do Porto seriam facilmente substituídos pelos dos principais rivais. Quem diria…
Rúben Ferreira (Marítimo) – Lançado por Pedro Martins na turma insular, o lateral esquerdo mostrou credenciais suficientes para ser pré-convocado para a Seleção das quinas em 2013. Dono de um pé esquerdo refrigerante, o lateral destaca-se pela profundidade que dá à equipa, assumindo-se como um dos mais competentes da liga na sua área de jurisdição. Sob alçada disciplinar do clube por um desaguisado com Lynneeker, o jogador realizou a última partida no segundo mês do ano e a despedida parece estar para breve, litigiando ligações de uma década aos verde-rubros.
Tozé (Vit. Guimarães) – Augurava-se-lhe um ano edificante no Vitória de Guimarães. Depois de duas épocas de bom nível na turma secundária do Porto (especialmente a segunda), o médio pegou de estaca no Estoril, ficando à beira das 40 partidas e 7 golos apontados (um deles à entidade patronal, que causou motim). No entanto, a época 2015/2016 acabou por ser a menos profícua enquanto sénior. Pouco mais de 1000 minutos são um número curto para o potencial e qualidade do sub-21 luso.
Ukra (Rio Ave) – Um bailarino que recolheu menos palmas que o habitual no Estádio dos Arcos. O petulante jogador protagonizou uma época apagada dentro das quatro linhas. Depois de um ano desportivo pautado por regularidade e classe – que lhe valeu inclusivamente uma chamada à seleção principal – Ukra perdeu espaço e os aplausos granjeados tiveram foco especialmente por via de ações solidárias. Após 52 partidas na época anterior, muito por culpa da campanha europeia dos vila-condenses, o jogador perdeu preponderância na equipa de Pedro Martins e acabou a temporada somente com um tento para amostra.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Renato Santarém

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