Trabalho de Autor

Não é de fé que este texto trata, mas a fotografia que o acompanha tornou-se numa das principais imagens de marca de Kurban Berdyev, o protagonista desta história. Depois de liderar o Rubin Kazan durante 12 anos, o técnico natural do Turquemenistão, procura repetir com o FC Rostov, os sucessos que alcançou durante a sua estadia na República do Tartaristão, e que teve como momento mais inesquecível a vitória por 2-1 em pleno Camp Nou, diante do Barcelona de Guardiola.

Depois de conquistar dois títulos nacionais, uma taça e duas supertaças, Berdyev abandonou o Rubin Kazan em Dezembro de 2013, por divergências com a actual direcção, e assumiu, um ano mais tarde, o comando técnico do Rostov, um histórico do futebol russo, que atravessava uma profunda crise, tanto em termos desportivos – última posição no campeonato com 11 pontos ao cabo de 17 jornadas – como financeiros, com vários meses de salários em atraso.

Para além disso, a equipa já não era a mesma, que apenas 6 meses antes, havia conquistado a Taça da Rússia – o único troféu no seu historial – ou alcançado a 7ª posição no campeonato, a melhor classificação do clube nos últimos 15 anos. Artem Dzyuba e Jano Ananidze, ambos emprestados pelo Spartak de Moscovo, regressaram à equipa-mãe no mercado de verão, depois de serem responsáveis por metade dos golos dos Selmashi na Primeira Liga.

A recuperação na tabela foi espectacular e inclui 5 triunfos nas primeiras 7 jornadas após a pausa de inverno. No entanto, o Rostov não se livraria de disputar o playoff de despromoção com o Tosno – 3º classificado da segunda liga. Nos primeiros seis meses com a equipa, Berdyev não conseguiu melhorar a fraca produção ofensiva da equipa, e nem o regresso de Dzyuba – com apenas 1 golo – ajudou, todavia, a forte organização defensiva, característica das suas equipas, acabou por prevalecer.

No início desta temporada, e com todos os problemas financeiros que continuam a atormentar o dia-a-dia do clube, ninguém seria capaz de prever o que está a acontecer. Na véspera de retomar a competição, o Rostov ocupa o 2º lugar do campeonato, a 3 pontos de distância do líder CSKA de Moscovo. Apesar de não ser uma equipa especialmente prolífica – 23 golos nas primeiras 18 jornadas – o Rostov conseguiu excelentes resultados em casa e soma o melhor registo defensivo do campeonato. Os Selmashi são a equipa que mais pontos conquistou como visitado, e a única, a par do Terek Grozny, que ainda não perdeu nessa condição. A média de assistências no Olimp-2, com capacidade para quase 16 mil pessoas, ultrapassa os 12 mil espectadores – a 5ª maior do campeonato.

A equipa surge habitualmente disposta num 4-2-3-1, ou mais recentemente, num esquema de 5 defesas, alternando entre o 3-5-2 e o 5-4-1. A linha defensiva é liderada pelo veterano César Navas, que decidiu prolongar a sua experiência no futebol russo, depois de receber um convite de Berdyev, que já o tinha orientado no Rubin Kazan. Ao seu lado, jogam o internacional angolano Bastos – implacável em todo o tipo de bolas divididas – e o russo Ivan Novoseltsev, recentemente convocado por Leonid Slutsky à selecção nacional.

O capitão de equipa, Alexandru Gatcan, funciona como a âncora do meio-campo. À sua frente, o internacional equatoriano Christian Noboa, outro dos favoritos de Berdyev no Rubin Kazan, e o jovem Pavel Mogilevets, emprestado pelo Zenit de São Petersburgo, ditam o ritmo de jogo. O experiente bielorrusso Timofei Kalachev funciona como uma autêntica locomotiva pelo corredor direito. À esquerda, Timofei Margasov neutraliza as investidas adversárias. Para a frente de ataque, Berdyev tem à sua disposição o poderoso Aleksandr Bukharov e o promissor iraniano Sardar Azmoun, com quem também já tinha trabalhado no seu anterior clube. O extremo Dmitri Poloz é o melhor marcador da equipa e tem-se assumido como a principal figura num conjunto muito homogéneo.

Berdyev construiu uma máquina altamente disciplinada do ponto de vista táctico, extremamente eficiente do ponto de vista defensivo e de uma eficácia tremenda na outra metade do campo, o que já lhe valeu algumas comparações com o Atlético de Madrid, de Diego Simeone. O Rostov tem o pior ataque da primeira metade da tabela e é a 5ª equipa que menos remata entre as 16. A percentagem de posse de bola é inferior a 50% e a equipa recorre com muita frequência a bolas longas, algo de que Bukharov tem sabido tirar partido. Depois de uma experiência pouco sucedida no Zenit, o matador de Berdyev nos tempos do Rubin Kazan, redescobriu a sua melhor versão, após a chegada do seu antigo treinador. Todos estes ingredientes fazem do Rostov um verdadeiro osso duro de roer.

Independentemente do que aconteça na segunda volta, o Rostov, que entra este sábado em campo a partir das 11h30, é a grande sensação do campeonato, sobretudo depois do milagre que Berdyev foi capaz de operar na temporada anterior. Há um ano, a despromoção parecia um desfecho inevitável. Hoje, o Rostov surge como o principal rival do CSKA de Moscovo – e até que o Zenit não reentre nos trilhos – na luta pelo título.

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