Lógica procura-se

2015 marca uma nova forma de os portugueses seguirem o futebol. Com a introdução do Placard, através da Santa Casa da Misericórdia, a febre das apostas desportivas parece ter-se alastrado definitivamente pelo país. Já são raros os adeptos do desporto-rei a ficar indiferentes ao boletim, seja ele impresso ou electrónico, sejam os conhecimentos futebolísticos muito ou pouco aprofundados. Vislumbra-se uma forma aparentemente fácil de se enriquecer e o subconsciente começa a falar mais alto. No jogo dos estratagemas para alcançar a glória dos milhares, ou milhões, recorre-se a estatísticas, fichas de jogo, leva-se em conta as últimas exibições e trocam-se experiências com outros apostadores. No fundo, o julgamento feito a cada partida procura ao máximo respeitar a lógica. Porém, ela nunca pertenceu ao futebol. Na presente edição da Premier League em particular, ela não pára de ser contrariada. Grandes a tombar invariavelmente, "pequenos" a surpreender constamente. Fugir ao campeonato inglês no momento de colocar as fichas revela-se mesmo o melhor dos remédios.

As odds do Leicester, por exemplo, permanecem incrivelmente aliciantes que até se desconfia se é segura uma aposta nos Foxes. Certo é que venceram novamente. Mahrez fez um hattrick mas a notícia foi Vardy, que finalmente disse "Basta!". O mês de Dezembro, não apenas pelo acumular de partidas como também pelo teórico elevado nível de dificuldade das mesmas, vai ser o derradeiro teste para os Foxes, que se saírem vivos, podem muito bem começar a pensar seriamente em escrever a mais linda história de sempre em solo de Sua Majestade. Vão demonstrando a essencial consistência que nenhum outro vem trazendo consigo. Nem mesmo o City, que apesar de ainda possuir as mais altas probabilidades de ser campeão, embora estas não valham nada na prática, sentiu bastante a falta dos seus dois melhores elementos e voltou a caír. Mas há que dar a César o que é de César. Ou por outra, ao Stoke o que foi do Stoke. Excelente performance dos Potters e mais três pontos essenciais na subida à zona confortável da tabela.

Arsenal, Manchester United e Chelsea, nas vésperas de autênticas batalhas europeias, quais Grandes Guerras Mundiais, tiveram sortes distintas. Todos voltaram a demonstrar imensas dificuldades em marcar e apenas os Gunners somaram os três pontos, apesar das mil e uma baixas. Os Red Devils, que de diabos não têm nada ao dia de hoje, sempre podem-se regozijar de terem sido o único dos cinco "tubarões" a não perder diante dos Hammers nesta primeira volta, enquanto num duelo entre os campeões em título das duas principais ligas inglesas, Mourinho viu a sua equipa dar uma brusca marcha-atrás na tímida recuperação que vinha efetuando. Um autêntico balão de oxigénio para o Bournemouth, que com um orçamento manifestamente inferior ao campeão demonstrou que no futebol não é o dinheiro que manda. E também para o Newcastle, que fez caír o Liverpool. Já West Brom, Tottenham, Southampton, Villa, Everton e Palace somaram todos um ponto, embora nem todos o tenham saboreado da mesma forma.

Onze Ideal da Jornada 15 da Premier League: Boruc (Bournemouth); Janmaat (Newcastle); Lescott (Aston Villa); Cook (Bournemouth); Fuchs (Leicester); Ramsey (Arsenal); Wijnaldum(Newcastle); Arnautović (Stoke); Shaqiri (Stoke); Mahrez (Leicester) e Ighalo (Watford).
MVP: Mahrez (Leicester). O melhor jogador argelino da atualidade até podia pendurar hoje as chuteiras que não deixaria de ficar marcado a este grande arranque dos Foxes. Mas não. Há que fazer mais. Há que marcar mais. A ida ao Liberty fica marcada por aquela que é talvez a sua melhor exibição da época, coroada com três golos de elevado nível. Uma prova da sua versatilidade, mostrando-se útil não apenas na construção das jogadas como no culminar das mesmas. 
Jogador a Seguir: Campbell (Arsenal). A sensação do Mundial 2014. Uma das desilusões da época subsequente. Aposta de Wenger para permanecer no plantel nesta e uma oportunidade no 11 fruto da vaga de lesões que atacou muitos dos elementos da equipa. Eis um dos maiores talentos da CONCACAF que tem aqui a chance de voltar a ser um valioso ativo. No último sábado, fez questão de dizer presente e com um tento de belo efeito, revelou-se pedra basilar para o desbloquear de uma partida bastante complicada para a turma londrina.
Treinador da Jornada: Eddie Howe (Bournemouth)
Melhor Jogo: Everton vs Palace (1-1)
A Desilusão: Swansea. Lembro-me como se fosse hoje do primeiro artigo desta saga. Falava-se do agigantamento dos "pequenos" e vários elogios recaiam sobre um restrito lote de equipas. De lá para cá, nem todas mantiveram o nível. A queda mais abruta de rendimento registou-se no País de Gales que, desde que viu o seu clube representante na Liga derrotar o United, nunca mais viveu essa boa fase. É verdade que houve uma vitória em Villa Park, mas a mesma é curta depois de um início tão auspicioso. A defesa tornou-se incrivelmente vulnerável, o ataque perdeu a dinâmica, Monk, depois de tudo o que tem feito pelo clube, aparenta impotência. Na receção ao Leicester esperava-se uma verdadeira resposta a esta má fase mas o duelo apenas serviu para agudizar toda a situação. Esperam-se melhores dias e imaginar os Swans a lutar pela manutenção causa inevitavelmente alguma confusão.
Menção Honrosa: Quique Flores. Treinador espanhol, com uma passagem algo conturbada por Portugal, acumulando alguns fracassos, pese embora a valia do plantel à disposição. A verdade é que a temporada já vai quase a meio e a equipa que treina atualmente, o Watford, é indiscutivelmente a segunda maior revelação do ano até ao momento. A consistência dos Hornets é indissociável ao trabalho do espanhol que após sair das "águias" também chegou a conquistar a Liga Europa ao serviço do Atlético. 

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Marco Rodrigues

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