O Velho Apache, o Velho Boca...e os novos

Após quatro anos de seca, o Boca Juniors, um dos clubes mais titulados do mundo, sagrou-se campeão Argentino, somando o seu vigésimo sexto título de campeão nacional na Era do profissionalismo no país das Pampas. Num campeonato experimental (com 30 equipas que se defrontavam apenas uma vez - excepto as rivais, como River e Boca, que jogavam duas vezes entre si, perfazendo 30 jornadas - e durando todo o ano, ao invés do habitual formato de dois campeonatos por ano - um Apertura e um Clausura), os Xeneizes foram líderes durante quase toda a prova, confirmando o título a uma jornada do fim, graças ao triunfo na noite passada por 1-0 frente ao Tigre. Este é uma conquista particularmente relevante para os Bosteros, não só porque quebra uma seca que para um clube desta dimensão já era assinalável, mas sobretudo porque surge num momento em que o eterno rival, o River Plate, tem ganho inúmeros títulos a nível Continental (no último ano venceu a Copa Sul-Americana, a Recopa e a Libertadores, preparando-se agora para jogar o Mundial de Clubes no Japão), servindo assim para contra-balançar algum ascendente psicológico que os Milonários possuíam.

Depois de um bom arranque de Liga, o Boca Juniors, treinado pelo antigo lateral-esquerdo Arruabarrena, passou por uma fase de menor fulgor, coincidente com a quebra psicológica que a polémica eliminatória da Libertadores com o River Plate (marcada por lamentáveis incidentes) provocou. No entanto, a meio do ano a Bombonera ganhou novo alento com a chegada de um dos seus maiores ídolos no Pós-Maradona: Carlitos Tevez. O Apache, após ter sido uma das maiores figuras no futebol Europeu ao serviço da Juventus, voltava à sua casa uma década depois, com o claro objetivo de levar o seu clube de sempre ao título. E, apesar do desgaste provocado por um período continuo de competição desde Agosto de 2014 (toda a época na Juve, a Copa América e o regresso à Argentina), o sucesso de Tevez foi claro, assumindo-se como líder de uma equipa que nos últimos anos havia somado várias desilusões. A vitória por 1-0 no Clássico com o River no Monumental foi um momento decisivo, fazendo a equipa embalar definitivamente para a vitória final. O Apache somou o seu décimo novo título na carreira, sendo que, caso permaneça na Bombonera (algumas notícias dizem que existe um certo desconforto com craque com os dirigentes, o que poderia levar a uma saída), o objetivo do futuro próximo passa claramente pela conquista do ceptro continental, vencendo a Libertadores.

Um dos grandes focos de interesse ao acompanhar a liga de um dos maiores países exportadores de talento do Mundo, como a Argentina, é sempre o de tentar descortinar jogadores de grande potencial, os quais possam, em breve, dar o salto para o futebol Europeu. Assim, o Visão de Mercado aponta alguns nomes que se consolidaram nos últimos meses na terra do Tango e que podem cruzar o Atlântico a breve trecho (Calleri, Cubas, Simeone, Mammana, Cervi ou Kranevitter, por já terem sido esmiuçados noutras situações ou por serem mais conhecidos, foram propositadamente deixados de fora):

Rodrigo Bentancur (Boca Juniors, Médio, 18 anos) - Está ligado a um dos momentos mais delicados do percurso dos campeões, quando no último suspiro do confronto frente ao San Lorenzo, na jornada 23, ofereceu a bola a Matos para que este desse o triunfo à equipa do Papa Francisco na Bombonera. No entanto, este erro pontual não apaga o facto do Uruguaio ser a grande revelação dos Xeneizes nos últimos meses: médio muito elegante a tratar a bola, destaca-se pela capacidade de passe e de comandar o jogo ofensivo da equipa, tendo uma personalidade assinalável para tão tenra idade. É constantemente comparado a Riquelme. Uma pérola.

Sebastián Driussi (River Plate, Segundo Avançado, 19 anos) - Recentemente, várias pérolas têm surgido nos Milionários, tendo várias delas sido já destacadas neste Blog, como Kranevitter, Mammana ou Gio Simeone. Integrante da Selecção Argentina vencedora do Sul-American Sub-20, Driussi é um segundo avançado que lê muito bem os espaços de penetração na defesa rival, sabendo finalizar quer surgindo de uma segunda linha, penetrando na área, quer através de remates de longe. De boa técnica, foi já associado à Juventus.

Victor Salazar (Rosário Central, Lateral Direito, 22 anos) - O Central fez uma bela campanha neste campeonato, lutando quase até ao fim com o Boca e, para lá do já contratado pelo Benfica Franco Cervi, outro nome despontou na equipa Rosarina. Victor Salazar teve um ano de afirmação, assumindo o posto de lateral direito da equipa. Muito enérgico e agressivo a defender (precisa de aprimorar aspectos de posicionamento), é uma fonte de problemas quando sobe pelo flanco, graças ao seu repentismo e descaramento. A falta de qualidade na sua posição pode levar ao interesse de boas equipas Europeias.

Lucas Alario (River Plate, Ponta-de-Lança, 23 anos) - Após deixar boas indicações no Colón, foi contratado a meio do ano pelo River, e a aposta foi um sucesso. Pouco depois de chegar, foi decisivo na conquista da Libertadores, marcando nas meias-finais e abrindo o marcador no jogo decisivo do torneio. Tendo entrado na equipa para o lugar de Teo Gutiérrez, é um ponta-de-lança de área que finaliza muito bem de cabeça, somando dez golos em vinte e dois jogos em 2015. 

Hector Villalba (San Lorenzo, Extremo, 21 anos) - Jogador franzino, mas habilidoso, leva já alguns anos na Primeira Divisão. Tem o típico perfil do jovem muito forte no um contra um, muito ágil, mas cujo físico leva a que sejam colocadas algumas dúvidas sobre a sua afirmação ao mais alto nível.

Lucas Zelarayán - (Belgrano, Médio Ofensivo / Segundo Avançado, 23 anos) - Um "enganche" cheio de talento. Não joga numa das principais equipas do país, mas isso não belisca em nada a sua qualidade. Cheio de técnica, domina bem ambas as pernas, a finta e o último passe. Deve subir um degrau em breve, seja para um clube maior na Argentina seja para a Europa.

Pedro Barata

Etiquetas: