Hulk, Smash!

Acontece algumas vezes. Quando esperamos que o Oscar vá para uma Cate Blanchett, vai para uma Gwyneth Paltrow. Quando esperamos que vá para um Jack Nicholson, vai para um Adrien Brody. Isto sem querer falar da justiça de cada vitória, pois esse é um caso distinto. Claro que uma Blanchett é quase sempre melhor que uma Paltrow; e claro que um Nicholson é quase sempre melhor que um Brody também. Contudo, e porque todos temos maus dias ou, de quando em vez, dias extraordinários, por vezes a sorte muda e os seres ditos inferiores superiorizam-se àqueles que são usualmente laureados.

Por vezes o melhor actor não é o melhor actor, mas aquele que não só teve uma performance fantástica, mas também elevou mais o seu filme. Caso contrário, Meryl Streep e Christian Bale ganhariam todos os anos e estava o caso encerrado. Daí que, por exemplo, a Cate Blanchett tenha ganho o Oscar por Blue Jasmine, deixando Amy Adams, que tivera também uma interpretação fabulosa em American Hustle, mais uma vez sem estatueta nas mãos. Adams é (na minha parcialíssima opinião) superior a Blanchett, mas a última tornou um filme horrível e inacabado em algo agradável de ver.

Tal como no Cinema, a ideia também se aplica no desporto. O que é um MVP? O melhor jogador em termos absolutos? Não, pois se assim fosse LeBron nem teria de aparecer no court para ganhar esse título todos os anos. Um MVP é, entre outros factores, aquele que, com as suas performances extraordinárias, mais peso tem no rendimento (e sucesso) da sua equipa. Daí Curry ter arrecadado o prémio na última temporada da NBA. Os seus Warriors foram a melhor equipa da fase regular (e posteriormente dos play-offs) e para isso muito contribuíram as exibições do outro mundo do mago Steph.

Chegamos por fim ao futebol. Sempre que chega a Champions, muito falamos de Ronaldo, Messi, Neymar, Suárez, Benzema, Bale, James, Ibra, Di María, Agüero, Rooney, Muller, Ribery, Neuer, Robben, Lewandowsky, Alexis, Özil, Griezmann, Hazard, Pogba, entre vários outros. O que é perfeitamente natural, dado que são esses, de facto, os grandes destaques das maiores ligas europeias. São eles as Meryl Streeps e Christian Bales do futebol.

Porém, o grande jogador da Champions este ano não tem sido nenhum desses elementos, mas um Incrível que milita no campeão russo. Falo, pois claro, de Givanildo Vieira de Souza — perdão, Hulk.

O monstro (pouco) verde do Zenit tem sido fundamental para a sua equipa, que por sua vez tem sido o melhor conjunto da Liga dos Campeões, o único com cinco vitórias em cinco jogos. Jogadores como Ronaldo, Neymar, Messi, Suárez, Benzema e especialmente Lewandowsky marcam muitos golos, no entanto, o peso que Hulk tem para sua equipa é superior aos restantes craques.

A equipa do luso Villas-Boas, que aliás já orientara o Incrível na grande época de 2010-2011 do FC Porto, joga mal e parcamente. Tem esse facto expressão exponencial no campeonato, em que não tem tido, de todo, uma prestação estelar. Ainda assim, um jogador tem brilhado, levando a equipa às costas e esse jogador é Hulk.

O Incrível, em 20 jogos no campeonato e UCL, leva 10 golos e 18 assistências, números astronómicos no panorama actual. Apenas na maior competição do mundo de clubes, leva três golos e quatro assistências em apenas cinco jogos. E se é verdade que nem tudo são números e que outros terão mais golos, não menos o é que ninguém de momento tem mais peso na sua equipa que o extremo do Zenit.

O seu rendimento não se resume às estatísticas. O brasileiro joga como ninguém no conjunto de S. Petersburgo e é o pilar ofensivo do mesmo. É, ainda que muitas vezes subvalorizado, um dos melhores do Mundo, mas vai acabar a época com 30 anos e, daqui para a frente, dificilmente exibirá a sua capacidade numa liga Top 3.

Resta aos russos apreciarem a sua qualidade e os portugueses orgulharem-se de o ter visto perfumar os nossos relvados. É um daqueles casos, talvez o mais flagrante dos últimos anos, em que um jogador de top mundial fica arredado dos grandes palcos, por culpa própria e dos demais. E é, realmente, uma pena que não tenhamos a oportunidade de ver Hulk brilhar numa das principais ligas da Europa, pois tem talento para tal.

Visão da Leitora (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Inês Sampaio

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