Jorge Abrantes ao Visão de Mercado: «Em Coimbra o número de filiados na modalidade tem uma relação de 1 para 2 em relação ao futebol»

Jorge Abrantes é o Coordenador Técnico da Ginástica da Associação Académica de Coimbra (AAC), e aceitou responder a algumas questões colocadas pelo Visão de Mercado. O treinador fala de alguns temas relacionados com a actividade da secção de ginástica, e também do estado da modalidade em Portugal. O VM e os seus leitores agradecem pelo tempo disponibilizado, sendo esta iniciativa mais uma humilde tentativa de dar alguma visibilidade a um desporto com pouco impacto mediático no nosso país.

Quantos ginastas estão inscritos actualmente na Associação Académica de Coimbra, e por que áreas se dividem?
Jorge Abrantes: A Secção de Ginástica da AAC tem 503 ginastas, divididos pela área técnica (Formação, Competição e Representação) com 462 e pela área de Lazer (Step, Body Balance, Body Pump, AeroLlocal e Zumba) com 41 ginastas. Esta última área tem tendência a crescer ao longo do ano, para números entre os 100 a 120 ginastas, o que permitirá à secção chegar ao final da época com um número entre os 550 a 600 ginastas.

Quais os resultados obtidos pela Ginástica da AAC em termos de títulos e participações internacionais?
Os resultados desportivos relevantes obtidos são inúmeros. Se nos situarmos na época que acabou, verificamos a conquista de 8 títulos nacionais, 9 vice-campeões nacionais e 9 terceiros classificados nacionais. a nível distrital registou-se-se ainda a obtenção de 57 títulos! A participação internacional é relevante com 3 ginastas a representarem a seleção nacional de Trampolins, 2 a de Tumbling e um par misto a de Acrobática, com este a obter o resultado de maior relevo, já que esteve presente nos 1º Jogos Europeus que se realizaram em Baku e onde obtiveram o 5º lugar absoluto.

Quais são os maiores problemas com que a Secção se depara? E resolvendo ou atenuando alguns desses problemas, a que nível poderia chegar a Ginástica da Académica?
Pensamos que os maiores problemas são o financeiro e o de espaço de treino. O problema financeiro está resolvido na origem, já que à falta de financiamento externo (o orçamento da Secção depende a 98% das anuidades pagas pelos ginastas) toda a época é programada de forma pragmática e só se gasta o dinheiro que existe. Já a questão do espaço de treino é um problema sério, já que treinando nós no pavilhão 2 do Estádio Universitário e usando ainda um armazém cedido por uma empresa, podemos em breve vir a perder esse segundo espaço, por venda do mesmo, e nesse momento não conseguiremos encaixar todas as horas de treino no EUC. A existência de uma área no EUC maior do que atualmente existente, iria permitir à Ginástica da Académica passar a outro nível dentro da modalidade.

O que falta a Portugal para se tornar uma referência internacional na modalidade? Passa apenas pela falta de meios financeiros e humanos, ou também é uma questão de organização a nível de clubes e federação?
Falta a existência de boas salas de ginástica um pouco por todo o país e uma organização da federação no sentido de massificar uma prática de que já implementou com o programa Playgym, mas que atualmente está desvalorizado.

A percentagem de rapazes inscritos na secção de ginática é muito reduzida. Esta modalidade continua a ser vista pelo público em geral como sendo vocacionada para meninas?
Sim, em termos culturais a ginástica é vista como uma modalidade mais de raparigas, mas tal só pode ser assim presumido por quem nunca entrou num ginásio. Na Académica os rapazes são somente 17% do total, embora isso signifique que são mais do que 70!

A Académica não possui ginástica artística e rítmica, que são modalidades olímpicas. O resultado não compensa o investimento, ou há algo mais?
No início da década de 80 essa foi uma opção tomada pela Secção, quando se percebeu que trabalhar ao alto nível, nessas especialidades gímnicas, iria exigir um esforço financeiro que não seria por nós comportável. A opção pela Acrobática e no início deste milénio também pelos Trampolins (incluindo o Tumbling) revelou-se a mais sensata.

O que pensa da pouca atenção dada à ginástica, e da reduzida divulgação das conquistas dos atletas em provas internacionais? Não sente alguma desilusão quando as prestações dos ginastas são ignoradas em detrimento de questões laterais relacionadas com futebol? E visto que os meios de comunicação tradicionais estão virados quase em exclusivo para o futebol, cabe às redes sociais providenciar o devido espaço mediático?
Sim, penso que cabe a cada atividade (desportiva ou outra), conquistar o seu espaço e a sua visibilidade, situação que em Coimbra tem sido conseguido com o número de filiados na modalidade a ter uma relação de 1 para 2 em relação ao futebol, ao contrário da relação nacional que é de 1 para 4.

O que acha da exigência do público em geral em relação aos atletas das ditas modalidades de alta competição, em especial nos grandes eventos, como os Jogos Olímpicos? É exagerada por falsas expectativas criadas a priori, ou apenas fruto da ignorância no que diz respeito a estas mesmas modalidades?
É fruto de algum desconhecimento das modalidades, de um exagero nas expetativas criadas pelas próprias tutelas desportivas e principalmente por uma abordagem completamente errada do desporto, em que tudo o que não seja uma medalha não tem qualquer significado, não se valorizando a excelência que é estar num palco como os Jogos Olímpicos ou um Campeonato do Mundo específico de uma modalidade.

Quais os planos para o futuro? Que desafios enfrentam e a que metas se propõem?
Além de esperar que a época corra sem sobressaltos e de acordo com o planeado, que possamos usufruir dos atuais espaços de treino e temos em Julho de 2016 a organização de mais um grande evento desportivo com a realização do Coimbra Gym Fest que englobará a Taça do mundo de Trampolins, permitindo ver um conjunto de ginastas que um mês depois estará nos Jogos Olímpico do Rio

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