Uma abelha rainha com sangue azul

15 De Abril de 2015, sete anos após a sua chegada ao Borussia Dortmund, Jürgen Klopp manifestou o seu desejo de abandonar o clube no final da temporada. A despedida não correu da forma que muitos desejariam – o Wolfsburgo, com Vieirinha em evidência, levou a melhor na final da Taça da Alemanha –, mas o legado de Klopp é incontestável. 2 Campeonatos, uma Taça da Alemanha, duas Supertaças da Alemanha, e uma não menos meritória presença na final da Liga dos Campeões em 2013. Porém, nem só de títulos se resumiu a passagem de “Kloppo” pelo clube.

Com um plantel composto maioritariamente por jovens jogadores, o Borussia Dortmund combateu a hegemonia interna imposta pelo Bayern de Munique e tornou-se numa das principais montras de talento do futebol internacional. Nuri Sahin, Mats Hummels, Mario Götze, Shinji Kagawa ou Robert Lewandowski, são apenas alguns dos jogadores, que ainda em tenra idade, conquistaram o seu espaço entre as escolhas iniciais de Jürgen Klopp. No entanto, contrariamente ao que se possa pensar, Nuri Sahin e Mario Götze foram os únicos que se conseguiram estabelecer na primeira equipa, depois de completarem todas as etapas da sua formação no clube.

Um paradigma que pode estar prestes a mudar e tudo por culpa de uma fantástica equipa de Juvenis, orientada por Hannes Wolf, que acabou de revalidar o título nacional de Sub-17. Nela, emergem diversas pérolas que deixam homens como Michael Zorc – director desportivo do clube –, de sorriso estampado no rosto.

Considerado a maior promessa de todos os escalões jovens do clube, e quiçá, de todo o futebol alemão da sua geração, Felix Passlack lidera um grupo de jogadores destinados a deixar a sua marca na equipa principal do Borussia Dortmund, à semelhança do que fez num passado recente, o seu maior ídolo – Mario Götze –, a quem já foi por diversas vezes comparado.

Nascido a 29 de Maio de 1998 (17 anos), na cidade de Bottrop, próximo de Gelsenkirchen, Passlack iniciou o seu percurso futebolístico no Fortuna Bottrop, onde permaneceu até 2010. Nesse ano, trocou o clube da sua terra natal pelo Rot-Weiß Oberhausen, onde rapidamente chamou a atenção dos principais emblemas de toda aquela região. Apesar do forte assédio de que foi alvo por parte de Leverkusen, Schalke, Colónia ou Bochum, foi o Dortmund que acabou por levar a melhor pelo seu concurso.

À primeira vista, esta até parecia ser uma decisão fácil de tomar. E na verdade, foi. Afinal, o Dortmund era o actual campeão da Bundesliga. No entanto, existe um dado muito curioso por detrás desta história e que poderia ter alterado facilmente todo este destino. É que Passlack é um grande adepto do Schalke – o maior rival do Dortmund –, ele próprio já o admitiu publicamente, mas nem isso serviu de entrave à sua adaptação no novo clube.

Desde 2012 no Dortmund, Passlack tem-se afirmado sucessivamente como a principal figura da sua equipa nos mais diversos escalões. Com 17 golos e 17 assistências distribuídos por 24 jogos, o jovem de 17 anos foi absolutamente instrumental na revalidação do título nacional de Sub-17, selado de forma contundente no passado domingo perante mais de 7 mil espectadores diante do Estugarda (4-0).

O seu bom rendimento valeu-lhe inclusive a presença, ainda no início deste ano civil, nos trabalhos da equipa principal durante o seu estágio em La Manga (Espanha), uma espécie de segunda pré-temporada que todas as equipas alemãs costumam realizar, geralmente no estrangeiro dado o Inverno rigoroso que se faz sentir na Alemanha, para preparar a segunda metade da temporada. Os elogios não demoraram a surgir e partiram de uma das vozes mais experientes do plantel – Sebastian Kehl –, que destacou o seu “atrevimento”.

Recentemente, Passlack foi um dos eleitos de Christian Wück, para participar no Campeonato Europeu de Sub-17 que decorreu na Bulgária no passado mês de Maio. Com uma geração claramente menos talentosa do que as anteriores, a selecção alemã caiu ainda assim na final perante a sua congénere francesa por uns expressivos 4-1. Passlack não só foi a estrela da companhia, como se assumiu como um dos jogadores em maior foco durante o torneio. Apontou 3 golos, somou uma assistência e terminou em segundo lugar na lista de melhores marcadores.

Em campo, Passlack caracteriza-se por ser um jogador extremamente versátil e dinâmico nas suas acções com bola. Pode ocupar qualquer posição no corredor direito mas é como extremo que se sente mais à vontade, segundo o próprio. Porém, no decorrer dos jogos, é comum vê-lo trocar de faixa com um dos seus companheiros de equipa ou em terrenos mais interiores.

Tem apenas 1,70m de altura, mas tal como Eden Hazard, é um jogador robusto e extremamente resistente. Aguenta bem o choque no ombro-a-ombro e parece estar constantemente “ligado à corrente”. A sua rapidez e a sua qualidade técnica, conferem-lhe uma excelente capacidade de drible sobre os seus oponentes. No entanto, é quando se aproxima das zonas de decisão que vêm ao de cima dois dos seus principais atributos: o seu forte pontapé, que aliado à sua enorme compostura, o transformam numa verdadeira ameaça para as balizas adversárias, seja nas imediações da grande área, seja em qualquer tipo de lances de bola parada, responsabilidade que assume tanto no Dortmund como na selecção; e a sua capacidade de cruzamento, cuja eficácia ultrapassa os 70%. Não é portanto de admirar que tenha uma participação directa tão significativa nos golos da sua equipa (38%). Outra das características que mais ressalta à vista, é a sua capacidade de liderança e uma maturidade acima da média, ou não fosse ele o actual capitão do Dortmund e da sua selecção.

À semelhança do que acontece com tantos outros jovens jogadores, também Passlack já foi alvo de diversas comparações com alguns jogadores mais consagrados. Entre Philipp Lahm e Mario Götze, já se abordou de tudo, desde a posição, a aparência, o potencial ou simplesmente o clube de origem, no caso do segundo. O seu talento parece ser indiscutível, mas nem tudo são certezas no que diz respeito ao seu futuro e uma das dúvidas passa precisamente pela posição em que poderá vingar no futebol profissional.

Por um lado, a quantidade de laterais direitos de top é cada vez mais escassa. Por outro, há quem considere que a sua altura possa ser vista como um handicap, se bem que este factor nunca tenha representado problema para Phillip Lahm se afirmar como o melhor lateral direito do mundo. Pensando numa óptica de integração na primeira equipa, talvez até seja como lateral que se abram mais possibilidades para se afirmar. Foi nesta posição que foi utilizado por Jürgen Klopp em La Manga e os problemas físicos de Erik Durm – que se tem vindo a afirmar no onze inicial –, e Łukasz Piszczek, podem-lhe abrir uma janela de oportunidade.

Pessoalmente, acredito que Passlack deve dar continuidade à sua formação como extremo. Os seus números, e quero dizê-lo exactamente desta forma, são demasiado bons para serem ignorados, ou para alguém o querer colocar mais longe da baliza adversária. Passlack reúne todas as condições – pelo menos, é assim que eu julgo – para se afirmar como um extremo de referência em equipas, que à semelhança do Dortmund, procuram aplicar um pressing alto, de forma a recuperar a bola o mais próximo possível da baliza adversária (e não só), assegurando o equilíbrio necessário no momento defensivo e que é cada vez mais apreciado pelos treinadores de futebol (Mourinho que o diga).

O Dortmund está bem ciente do seu potencial e prolongou recentemente o seu contrato até 2018, bem como o do seu companheiro de equipa Dzenis Burnic, um #6 com cabeça de #10, e que tal como Passlack, também se juntou à equipa principal em La Manga. Segundo Michael Zorc, a estratégia passa pela integração de ambos na equipa de Sub-19 (Hannes Wolf irá acompanhar os seus pupilos, abandonando o comando técnico dos Sub-17), mas a verdade é que estes dois jogadores estão entre os eleitos que acompanharão a equipa principal na sua digressão asiática durante o verão.

À semelhança do seu antecessor, Thomas Tuchel também é um treinador conhecido por não ter receio em apostar em jovens jogadores, assim que estes demonstrem qualidade que o justifique. Resta esperar pelas impressões que estes dois, e em especial Passlack, possam deixar, porque se Mario Götze se estreou pela equipa principal com 17 anos e alguns meses, Passlack não deverá levar muito mais tempo. Fixem o seu nome porque poderão ouvi-lo de novo muito em breve.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): João Lains

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