Regressar ao Passado

Para onde caminhas Milan? Esta é a pergunta que todos os adeptos milaneses e da modalidade em geral fazem a si próprios todos os dias e à qual ninguém sabe responder. Depois de um modesto 8º lugar na última temporada, o AC Milan volta a protagonizar uma época verdadeiramente decepcionante e que o colocará novamente fora da Europa. Clarence Seedorf foi despedido no final da época transacta e quando parecia que Adriano Galliani iria apostar num treinador com outro tipo de experiência e capaz de oferecer outro tipo de garantias ao clube, eis que a aposta recaiu em Filippo Inzaghi, outra figura marcante da história recente do gigante milanês. Infelizmente, o pior cenário previsto pelos mais cépticos realizou-se. Apesar da boa união no balneário promovida pelo novo treinador, isso não chegou para disfarçar os diversos erros cometidos por “Pippo” no comando técnico dos rossoneri. O plantel possui diversas lacunas, mas os erros têm sido mais do que muitos. Na verdade, a incapacidade para definir um 11 base, a instabilidade no processo defensivo, onde a variação constante da dupla de centrais é o expoente máximo desse problema; a colocação de jogadores em posições pouco adequadas para as suas características, a fraca qualidade na circulação de bola, a má organização nos lances de bola parada e, por fim, a excessiva dependência de Ménez durante grande parte da temporada (claramente um dos poucos que se conseguiu valorizar num colectivo tão fraco), acabam por ser os principais factores que têm contribuído para o descalabro que tem sido o campeonato da squadra rossonera. De facto, nem os reforços que chegaram em Janeiro conseguiram inverter a tendência e isso reflecte-se no actual 11º lugar na Serie A.

Deste modo, os adeptos da Associazione Calcio Milan exibiram uma tarja no pretérito jogo em casa perante o Génova, onde manifestaram o seu descontentamento. O “Basta!” acaba por ser o culminar de uma temporada frustrante e pouco condizente com os pergaminhos de um clube com 18 títulos de campeão italiano e 7 Ligas dos Campeões no seu currículo. No entanto, não existiu uma reacção imediata da equipa, visto que, este domingo, não conseguiram melhor do que um 3-0 em Nápoles, uma derrota pesada e que coloca cada vez mais a cabeça de Inzaghi sob a alçada da guilhotina dos adeptos rossoneri. O título obtido sob o comando de Massimiliano Allegri há 4 anos que já lá vai e com este rumo dificilmente voltará ao San Siro. O clube parece ter caído na mediania, tal é a inoperância da direcção, a deficiência na gestão e a incapacidade para reagir à adversidade.

Na verdade, o clube precisa de sangue novo e esse passo parece estar mais próximo do que nunca. Um novo Milan irá nascer, visto que Silvio Berlusconi está prestes a ceder 49% das acções do clube, por 500 milhões de euros, ao magnata tailandês Bee Taechaubol, mais conhecido por Mr. Bee. Um dos clubes mais titulados do futebol italiano e do mundo abre assim espaço para o investimento do capital estrangeiro, seguindo as pisadas do eterno rival da cidade. Deste modo, o regresso do Milan ao topo, por via da maior liquidez financeira, torna-se um cenário cada vez mais viável, sendo que, para atingir o sucesso, será necessário um melhor aproveitamento dos recursos, bem como uma melhor visão de mercado, tanto a nível de treinadores como de jogadores. A opção por elementos já muito rodados e titulados, muitos praticamente em fim de carreira, mantidos a peso de ouro (ordenados chorudos, entenda-se) e com pouca “fome” de títulos tem de ser revista imediatamente e substituída por uma política de contratações baseada na aposta em jogadores mais jovens e com outro tipo de ambição. A escolha do treinador será igualmente determinante, sendo que o mais recomendável seria optar por alguém com mais experiência no futebol italiano e com outra capacidade para exponenciar as mais-valias do plantel. Existem vários nomes interessantes no mercado, resta escolher bem.

Em suma, todos os adeptos daquele grande AC Milan anseiam por uma nova jornada em Milão, uma fase de renascimento que permita ao clube regressar ao tempo em que era um dos grandes dominadores do futebol italiano e europeu. A história do futebol faz-se em parte com os contos que tinham o Milan como protagonista, um clube que se habituou a ganhar e que merece sair rapidamente das ruas da amargura.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Rodrigo Ferreira

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