A seguir aos três grandes é o clube português mais conhecido na China

Uma parceria luso-chinesa, que tem sido um sucesso e faz do Mafra um dos clubes nacionais mais conhecidos no país mais populoso do Mundo. Estranho, tendo em conta que estamos a falar de um emblema que estava na terceira divisão até ao final desta época, mas não surpreende quem conhece a ligação existente entre os mafrenses e o país asiático. Pelo clube do Oeste, que criou uma equipa B propositadamente para que jovens chineses possam evoluir, já passaram nomes como Zhang ou Yu Dabao. A aposta nesse mercado não é segredo, até porque o vice-presidente, um dos responsáveis pela construção de um plantel altamente competitivo para o CNS, é chinês. A subida aos campeonatos profissionais, conseguida após uma vitória sobre o Louletano, pode ser o começo de uma história de sonho para um clube que andava há vários anos a ficar às portas da segunda liga. 

Antes de o campeonato começar, já se sabia que o Mafra era o principal favorito na zona Sul. Com um plantel praticamente profissional, recheado de atletas com experiência na primeira e segunda ligas, o apuramento na primeira fase foi conseguido de forma relativamente fácil. Quando começaram os jogos a doer, o clube sofreu uma contrariedade: a saída de Jorge Simão, técnico que acabaria por rumar ao Belenenses. O substituto escolhido foi António Pereira, treinador que manteve a equipa no caminho da subida, mais uma para o seu vasto currículo. Mas não foi fácil. Apesar da superioridade evidente do Mafra em relação aos mais directos adversários (o Operário e o Casa Pia), a ascensão à segunda liga só ficou consumada na última jornada, com uma vitória sobre o Louletano (1-0) conquistada perante mais de 4 mil espectadores. 

O plantel certamente sofrerá alterações para encarar um campeonato com 46 jornadas, mas o Mafra tem um elenco perfeitamente capaz de se bater de igual para igual com a maioria dos emblemas da segunda liga. É uma equipa muito experiente, com a maioria dos jogadores já na casa dos 30 ou perto disso. Tem uma defesa sólida (apenas 8 golos sofridos em 14 jogos da fase final), um meio campo muito agressivo e um ataque com elementos muito acima da média para o CNS. Individualmente, não houve um jogador que se destacasse claramente neste êxito; o mérito tem de ser repartido por nomes como Rui Varela, avançado de grande qualidade que passou pelo Belenenses, Beira-Mar ou Estrela da Amadora, Tiago Costa, médio brasileiro com um pulmão incrível, Marco Baixinho, central formado no Sporting e altamente fiável, ou Alisson, que, apesar de algo irregular, é um extremo com uma potência fora do comum (inspirado ninguém o consegue travar). Sandro, central que no ano passado estava no Santa Clara, Hugo Pina, outro médio que é um autêntico "pitbull", e Vasco Varão, médio que actuou nas costas do ponta-de-lança, também foram bastante importantes para o sucesso, sem esquecer Luís Carlos. O extremo, que já passou por Estoril, Setúbal e Belenenses, é, a todos os níveis, uma fotocópia de Quaresma: as trivelas também são a sua especialidade, e quando está bem é capaz de decidir qualquer jogo. Nem sempre esteve ao seu melhor nível, mas foi decisivo na segunda fase. Ruca, lateral-esquerdo com uma especial aptidão para marcar golos, também brilhou nos últimos jogos e foi a principal revelação, juntamente com o central Pengfei Han, o único chinês que foi presença assídua na primeira equipa. 

O próximo ano já tem algumas garantias. José Cristo, que é presidente do clube há muitos anos, já confirmou que a intenção é que António Pereira continue no comando da equipa, e também adiantou que o Mafra vai passar a jogar no Estádio Municipal, onde se costumam disputar jogos de selecções jovens, pois o Estádio Mário Silveira não tem condições para receber encontros das divisões profissionais. De resto, só no defeso se perceberá como vai ser construído o plantel e quais serão as ambições para a próxima temporada. À partida, um clube estreante na segunda liga apenas lutará pela manutenção, mas não parece faltar dinheiro para investir na construção de um plantel forte. A segunda liga é muito imprevisível, e um clube tanto pode lutar para subir como sofrer para não descer, mas não é de todo impossível que, a médio prazo, esta parceria luso-chinesa possa resultar numa subida à primeira divisão.

T. Cunha

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