Só com um milagre

Passaram 23 jornadas na I Liga. Olhamos para a tabela e vemos uma águia no topo. E uma águia no fundo. Símbolos idênticos, algumas cores em comum, mas se um clube está mais perto de ser campeão o outro vê a fuga à descida a complicar-se a cada ronda que passa.

O Futebol Clube de Penafiel parece ter o futuro condenado nesta Primeira Liga. A 3 pontos do 16.º classificado, e com as deslocações aos recintos de Benfica, Sporting, FC Porto e Braga, nesta fase só um "milagre" pode salvar a equipa de Rui Quinta. Mas, afinal, quais as razões para um clube que se apresenta constantemente perto de ganhar os seus jogos, mas que invariavelmente acaba sempre por perder pontos, se encontrar nesta posição?

1.ª: Erro de casting em relação ao treinador - Ricardo Chéu foi claramente um “tiro no pé” por parte da direção penafidelense, e logo no início da temporada. Já seria de esperar que a missão de substituir Miguel Leal (treinador que promoveu surpreendentemente a subida e realizou uma excelente prestação nas taças, mas que viajou para Moreira de Cónegos com uma proposta de dígitos superiores) ia ser complicada, mas o treinador que se encontrava anteriormente no Académico de Viseu começou com quatro derrotas consecutivas e exibições fraquíssimas, sem ponta por onde lhe pegar.
2.ª: Falta de qualidade do plantel - Já se sabia no início da temporada que o elenco, na sua maioria "made in II Liga", não seria capaz de manter o clube no principal escalão, mas algumas movimentações no mercado foram bastante discutíveis (principalmente feitas por Ricardo Chéu), como por exemplo Tony, Paulo Grilo e Capela. Neste mercado de Inverno surgiram algumas surpresas, como o regresso de Michel e a vinda de Tiago Valente (já jogou em Paços), Braga (uma “velha raposa” do nosso futebol), Ezequiel Calvente (o homem do penalti genial) e Ustaritz (ex-Arouca). No entanto, a maior parte destes jogadores não teve o impacto necessariamente imediato para promover a subida dos durienses na classificação.
3.ª: Inconsistência -  Nos últimos cinco jogos o Penafiel conseguiu estar sempre em vantagem no marcador mas apenas no Bonfim garantiu os 3 pontos. Esta demonstração de intranquilidade e de falta de consistência defensiva (que é sempre mais notória nas segundas partes dos encontros) em nada tem beneficiado a sua situação. A equipa melhorou claramente desde que Rui Quinta tomou o comando das operações, apesar de ser certo que "sem ovos não se fazem omeletes". No entanto, esta caraterística dos penafidelenses tem que ser rapidamente corrigida, uma vez que se torna uma espécie de equipa de duas faces durante o jogo. Verdade que as lesões não têm ajudado, mas a falta de um guarda-redes que dê a confiança necessária à sua já frágil defensiva contribui para este aspeto em específico – Coelho está longe das exibições que apresentou na época passada na Segunda Liga e Haghighi varia entre exibições incríveis e jogos fracos com abordagens de meter as mãos à cabeça.

Dito isto, dificilmente o Futebol Clube de Penafiel se conseguirá manter neste escalão. Como penafidelense, espero que isto não aconteça – e que surja um milagre. Dos grandes. No entanto, e se o cenário mais provável acabar por se desenrolar, ficará aquele amargo de boca em que se pensará principalmente: “Era possível. Era perfeitamente possível”.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Carlos Moreira

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