O Regresso do Central Perfeito

No Verão de 2011, um jovem de 24 anos estava no topo do Mundo. Ainda numa idade em que alguns jogadores possuem o rótulo de promessas, este Catalão era titular indiscutível na melhor equipa do momento (e uma das melhores de sempre) e pedra basilar da seleção Campeã do Mundo. Gerard Piqué, um Culé de berço que, tal como o seu amigo Cesc Fàbregas, abandonou Barcelona rumo a Inglaterra ainda adolescente, tinha já vencido tudo no mundo do futebol ainda muito novo, cimentando a sua posição não só como o melhor Central do Mundo mas também como um dos melhores futebolistas do Planeta. Um ano depois, em 2012, Espanha venceu o Europeu da Polónia e da Ucrânia, chegando Piqué aos 25 anos com o impressionante registo de já ter vencido a Liga Espanhola (3 vezes), a Taça do Rei (2 vezes), a Supertaça de Espanha (3 vezes), a Liga dos Campeões (3 vezes), a Supertaça Europeia (2 vezes), o Mundial de Clubes (2 vezes), a Premier League, a Supertaça Inglesa, o Europeu e o Mundial de Seleções. 

No entanto, a certa altura, algo começou a correr mal. A última época com Guardiola já não foi especialmente brilhante, com o número 3 a ficar no banco em jogos decisivos contra o Real Madrid e o Chelsea, passando a cometer algumas falhas e baixando o seu nível, algo que seria uma constante nas duas épocas que se seguiram. Em 2012/2013 e 2013/2014, Piqué (sem Puyol ao lado na maior parte do tempo, o que está longe de ser um pormenor, já que a capacidade de liderança do “Tarzan” era fundamental), deu uma imagem de defesa frágil , facilmente batido, permeável, acumulando erros básicos, sendo até mesmo algo desleixado no seu comportamento. Esta queda abrupta levou a que nos primeiros meses desta temporada, o Espanhol passasse a suplente de adaptações como Mascherano e Mathieu.

Mas os grandes nunca se rendem. Aquele menino que aos 16 anos trocou o sol de Barcelona pela chuva de Manchester em busca de um sonho, tendo regressado aos 21 para ser um pilar da melhor equipa da sua era não podia, de um dia para o outro, abandonar o lugar que lhe era destinado entre os melhores. No início da época, Piqué deu o primeiro passo para corrigir o que estava mal: reconheceu que não estava bem, dizendo que já não era o melhor mas que queria voltar ao nível que tinha anteriormente.

Ora, os últimos meses vêm aproximando o Culé do seu objetivo. O Central foi subindo de rendimento, eliminando as falhas do seu jogo e tornando-se indiscutível para Luis Enrique. O ponto mais alto desta melhoria deu-se no recente clássico frente ao Real Madrid, onde Piqué foi o melhor jogador Blaugrana, o que, a juntar a excelentes exibições face a rivais como o Manchester City e Atlético de Madrid, fazem-nos dizer que estamos perante o regresso do central perfeito: alto e forte no jogo aéreo, mas extremamente veloz, ágil e impecável no desarme junto à relva; com grande capacidade de saída de bola, brilhante leitura de jogo, relevando mestria no passe curto e precisão no longo; é, por vocação (dadas as suas condições físicas) e formação, um defesa de equipa grande, capaz de jogar com várias dezenas de metros nas costas, mas também sabe ser bombeiro em momentos de aflição, quando é preciso defender junto à sua baliza.

Gerard Piqué subiu até ao topo do mundo, escorregou mas não caíu, estando a dar mostras de ser capaz de voltar a ascender à galeria dos melhores executantes do jogo. Com ele, o Barcelona opta a tudo, sabendo ter no sector mais recuado um verdadeiro seguro de vida, tendo o Catalão o desafio de tentar manter o seu nível actual, dando continuidade a este momento de (re)afirmação.

Pedro Barata

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