O futuro ponta-de-lança da seleção nacional e o "El Kun" do Paraguai

Contextualizar o ponta-de-lança Português no mapa mundial é uma tarefa hercúlea. Não há um único jogador que dê garantias condizentes com os pergaminhos das nossas selecções. Ano após ano, surge um fogacho, uma esperança que é rapidamente esbatida pelo sub-rendimento que evidencia - vide Éder. Com o intuito de contrariar essa infeliz tendência, aparece Rui Pedro, atleta do FC Porto da geração de 98. Paralelamente à sua descrição, apresentamos Sérgio Díaz, também de 98 - descrito pela crítica como o "El Kun do Paraguai", alcunha que, diga-se à priori, não encaixa de forma genuína no perfil do jogador.

O internacional sub-17 por Portugal é um ponta-de-lança, na verdadeira acepção da palavra. Talvez por isso, e para felicidade do jogador, não o tenham deslocado para um corredor. Parece estranho, mas é o pensamento reinante nos escalões de formação em Portugal.  O treinador médio no nosso País, quando deparado com um jogador veloz ou com maior valia técnica, não hesita em atirá-lo para as faixas, em virtude da imbecil necessidade de ganhar os jogos a todo o custo - o que provavelmente já nos custou extremos razoáveis ao invés de avançados de nível. Posto isto, caracterizar o Rui obriga a um afastamento do típico avançado nacional. Distancia-se da concorrência pelo peculiar porte físico para a idade, que aliado a uma técnica q.b, lhe permite ganhar grande parte dos duelos dentro e fora de área. Mais, não tem qualquer problema em finalizar ao primeiro toque - outro handicap do avançado Português-, com ambos os pés. Como contra, e apesar de ser forte pelo ar, talvez em virtude da supremacia física face à concorrência, não parece haver evidência de uma técnica de cabeceamento diferenciada. Por fim, os saltos de escalão a que nos tem brindado só reforçam a diferença qualitativa para os colegas da mesma idade (já actuou  na II Liga, ao serviço da equipa B portista).

O Paraguaio é de outra estirpe. Prova disso é que, com apenas 16 anos, já é um jogador preponderante no Cerro Porteno (ex-equipa de Iturbe). Ao contrário do Português, consegue actuar em mais posições na frente do ataque, em função da sua habilidade com bola. Proveniente de uma escola com créditos firmados, Sérgio é primoroso nas movimentações, inteligente a vir buscar bola e dinâmico quando descai para os corredores. Para além de se destacar no capítulo do golo, exibe alguma facilidade no cruzamento assim como no jogo aéreo, o que lhe poderá ser benéfico em lances de bola parada. Aparentemente, desliga-se das tarefas defensivas - o que não deixa de ser natural para a idade -, revelando alguma imaturidade no momento de soltar a bola. Internacional sub20 pelo Paraguai e debaixo de olho dos maiores clubes europeus, o destino de Sérgio, até, poderá passar, a curto prazo, por Portugal.

Por último, e juntando mais um argumento à escassez de avançados centro no nosso País, julgamos ser pertinente recordar uma não muito distante declaração de Rui Jorge em que enfatiza o abuso do 4-3-3 na formação em Portugal, onde só cabe 1 avançado. É natural que num 4-3-3 aberto, ao invés do 4-4-2 utilizado na formação Holandesa (só para dar um exemplo), o processo de recrutamento fique reduzido a 2 avançados (ao invés dos 4 na Holanda), eliminando, à priori, potenciais atletas para tal posição.

Scouting: João Magalhães e Rui Valente

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