Cortar o nó Górdio

Há certos problemas que parecem insolúveis à primeira vista, mas que na realidade podem ser resolvidos de modo rápido e eficaz. E se há clube com problema dignos de figurar na mitologia antiga, esse clube é o Sporting. O emblema de Alvalade tem o condão de escrever tragédias, ou comédias, em número suficiente para alimentar uma enciclopédia, e a temporada que corre não é excepção. Mas não é do passado que se pretende falar, mas sim do futuro, e se é verdade que a época desportiva ainda não terminou (há um terceiro posto para manter, e uma Taça de Portugal para vencer), o facto é que o corpo dirigente do Sporting já estará a planear o que fazer no próximo Verão. Entre realidade e ficção, a verdade é que a equipa de futebol ainda está uns patamares atrás das dos rivais directos (e os factores são variados, demasiados para esmiuçar aqui), e se o caminho se faz caminhando, é essencial aumentar a qualidade à disposição de Marco Silva para a temporada que se avizinha. Para que tal aconteça, é preciso resolver uma série de problemas, entre os quais aqueles descritos de seguida:

William Carvalho
O trinco do Sporting é um enorme jogador, e a tendência é para melhorar. Certo, não é forte nos números e nas estatísticas que fazem a delícia dos que não sabem olhar para um relvado a partir de uma torre, mas a sua presença sem bola, e os seus atributos técnicos fazem dele um jogador de qualidade indiscutível. O problema é que estes jogadores são apetecíveis, e agora que o Sporting possui a totalidade do seu passe, é natural que William possa ser transferido. O jogador transformou-se num pêndulo, e não será fácil de substituir. Caso o clube leonino opte pelo encaixe, fica a dúvida se alguém do plantel actual consegue colmatar essa saída, ou se será preciso ir ao mercado. Ou então, se a solução passa por uma mudança táctica.

Jefferson
O brasileiro é, de longe, o melhor lateral à disposição de Marco Silva. A nível ofensivo, é de topo no que respeita à Liga Portuguesa, sendo dos que melhor cruza no panorama nacional. Mas tudo indica que o canhoto queira outros vôos (em classe executiva), e o Sporting pode aproveitar para realizar um encaixe que lhe permita manter outros elementos que veja como prioritários. Se sair, Jonathan assume-se como substituto natural, mas o argentino tem caído mais para Grimi do que para Heinze. Numa posição em que o talento não abunda, mesmo a nível internacional, estarão os leões dispostos a arriscar, ou preferirão manter um titularíssimo, mesmo com a expectativa deste se mostrar contrariado?

André Martins
Bom jogador, até útil para uma equipa como o Sporting, mas já não fará mais do que mostrou até hoje, e há no clube quem possa assumir o seu posto, com um margem de progressão maior. O médio não tem espaço, e por isso há que colocá-lo no mercado, preferencialmente a troco de algum dinheiro fresco. A sua cotação não está propriamente em alta, e sem amizades coloridas torna-se complicado realizar tal desejo. Algum tempo de jogo nesta fase final da temporada talvez pudesse alterar um pouco este cenário.

Capel
O extremo espanhol nada traz de novo à equipa, e só ocupa espaço que deveria ser ocupado por jovens que precisam de contacto com a equipa principal. O seu salário é um impeditivo de uma célere transferência, a falta de qualidade e de minutos neste ano também não ajudam. Mas é essencial que por alturas de Agosto já não tenha residência em Alvalade.

Carrillo
La Culebra mostrou o seu veneno com Marco Silva, colocando finalmente em campo todo o seu talento. Juntou ainda uma nova atitude, e uma disciplina táctica até então desconhecidas. Teoricamente, é um indiscutível, e como jovem que é, ainda pode dar 2 ou 3 anos de futebol até ser transferido para uma liga de maior dimensão. No entanto, a sua renovação está num impasse, e é preciso decidir rapidamente se, caso não alargue o vínculo, é preferível mais um ano de Carrillo, com posterior saída a custo zero, ou um encaixe financeiro, com a perda de uma mais-valia desportiva.

Rubio
Avançados jovens, e com golo nos pés não abundam, e o Sporting parece ter um dentro de casa. Coincidência ou não, a equipa B começou a facturar desde que o chileno tomou o lugar de Cisse e Enoh. A questão é que o avançado tem apenas mais um ano de contrato, e esse mesmo contrato é incomportável, a fazer fé nos números que vieram a público. Mas como referido, avançados destes não andam aí aos magotes, e seria uma aposta mais segura renovar com quem já pertence à casa, do que ir buscar alguém que procure ainda afirmação, como aconteceu com Montero ou Tanaka. O nó que se precisa de desatar é convencer o jogador a renovar, por valores dentro da política salarial.

Adrien
O médio é um jogador de valor, e aqueles que o criticam hoje esquecem-se como aguentou o meio-campo leonino numa fase em que William andou em parte incerta. Mas factos são factos, e esta temporada demonstrou que Adrien não é capaz de um rendimento elevado quando o calendário de jogos é mais preenchido. Tal não seria um problema, não fosse o seu salário, que automaticamente o obriga a jogar sempre, e bem. Por um lado, é um jogador que pode funcionar como símbolo do clube (e nos dias que correm, isso vale muito), por outro é um salário desproporcional ao rendimento.

Wallyson/Gauld
Estas jornadas podem e devem ser usadas para aferir se os dois jovens têm ou não condições para se assumirem como opções credíveis na equipa principal. Caso entrem no próximo ano sem tempo de jogo na equipa A, irá subsistir a dúvida quanto ao seu estado de desenvolvimento. Não fazendo sentido mais ano de equipa B, o natural seria o empréstimo. E o Sporting não se pode dar ao luxo de colocar a rodar elementos que podem ser mais-valias.

Nani
Ficou mais que provado que o Sporting precisa de Nani, ou de "um" Nani. Na sua melhor fase, o extremo carregou a equipa para a frente, e mesmo num período de menor fulgor, resolveu os dois últimos encontros caseiros. É indispensável ter um jogador com a classe e experiência de Nani, mas as restrições financeiras tornam essa necessidade quase que irrealizável. Bruno de Carvalho sacou um coelho da cartola no último defeso, e para que a equipa possa lutar de igual para igual com os rivais directos, é bom que faça mais um passe de mágica.

Jackson Martinez
Não, o colombiano que mora no Dragão não rumará a Alvalade. Mas o Sporting precisa de UM Jackson. Slimani é bom, excelente se o preço e salário entrarem na equação, mas para ser campeão o Sporting precisa de um homem que renda, calmamente, na casa das duas dezenas de golos no campeonato. Bom e barato? Pois...

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Nuno Ranito

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