Nostradamus, o Mentalista e o Calimero (não vão juntos no comboio ao Jamor)

Jorge Jesus abriu o confronto da Taça frente ao Sporting de Braga com um mind game bem lusitano, o de dar instruções à equipa de arbitragem quanto ao modo de actuar. O treinador encarnado não só tentou condicionar o comportamento do árbitro (e indirectamente, do próprio adversário), como ainda realizou algumas profecias, na linha do famoso vidente francês. É importante vincar um ponto: ao contrário do que muitos pensam ou preferem acreditar, Jesus não é burro ou ignorante. Pode não ser um erudito, mas no que toca à "ciência" do futebol ele é, realmente, um catedrático. Ele tem a perfeita noção de que as partidas se jogam não só dentro das quatro linhas, mas também fora delas, e sabe movimentar-se em ambos os cenários. E um dos pontos que ele domina é o do envio de avisos à navegação, aliás, como mostrou logo após a jornada inaugural em que, apesar da vitória obtida, não se coibiu de enviar recados aos árbitros que viesse a encontrar pela frente daí em diante. Esta táctica não é inovadora, e mostra-se bastantes vezes eficaz, bastando por exemplo lembrar o que aconteceu depois do discurso de Vitor Pereira acerca dos bloqueios de Luisão e colegas. Nas jornadas seguintes, esses movimentos, até então ignorados, foram fortemente penalizados pelas equipas de arbitragem. Claro que estes esquemas funcionam proporcionalmente ao peso da camisola envergada, pois lá fora os queixumes lusitanos não têm a mesma repercussão. No cenário europeu, os mind games de Jesus valem pouco mais que zero, seja porque ele não sabe falar estrangeiro, seja porque a sua voz não é suficientemente forte para alcançar os ouvidos certos. Mas regressando ao jogo da Taça, ficou bem patente o que Jorge Jesus quis fazer. Por acaso, o Braga da Pedreira, excessivamente agressivo não apareceu na Luz, e o árbitro nem foi demasiado zeloso no aspecto disciplinar. Mas, e caso os bracarenses tivessem terminado com menos de 11 em campo, poderia esse facto ser relacionado com as palavras da conferência de imprensa anterior ao jogo? Uns diriam que sim, outros que não, dependendo da cor ou da boa-fé. O facto é que este tipo de discurso, antes de uma partida, é perigoso, pois pode criar uma ideia (mesmo que falsa) de causa-efeito que coloque em causa a justiça do resultado final. Por outro lado, não deixa de ser interessante a reacção perante estas palavras. Noutro contexto, estas seriam vistas como nocivas (sei lá, os árbitros até se poderiam sentir coagidos e, avançar para uma greve?), mas neste caso em concreto até deram direito a manchete a confirmar e apoiar as palavras do Mentalista da Reboleira. Caso tivessem sido proferidas, hipoteticamente falando, por um garoto de cintura avantajada, barba e voz de bagaço, teriam sido encaradas como mais um vil ataque de um calimero chorão, de gasolina e isqueiro na mão, que procura única e exclusivamente influenciar terceiros em seu próprio benefício. Felizmente, este episódio, que passou mais uma vez em claro, acabou em bem. Não houve polémica, ambos os treinadores pareceram felizes no final, pelo que podemos seguir em frente.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): Nuno Ranito 

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