Condicionalismo presidencial

Deixem-me antes de mais fazer uma declaração de intenções. Não sou sportinguista e por isso mesmo este texto não tem o objetivo de ferir susceptibilidades, nem de pôr em causa o trabalho e a personalidade da pessoa em causa, mas sim fazer uma observação imparcial e desprovida do sentimento clubístico.

Bruno de Carvalho é uma daquelas pessoas a quem ninguém consegue ficar indiferente. A sua forma de estar de antes quebrar que torcer, na defesa acérrima do seu clube, granjeou-lhe muitos admiradores, mas também, qual single novo, entrada directa para o top ten das guerras de bastidores do futebol português.

Marco Silva por sua vez ingressou no Sporting, como o mais excitante talento a treinar em Portugal, depois de um percurso absolutamente fantástico no Estoril. Não corria o risco de ser o novo Paulo Fonseca, porque quer os adeptos do Sporting lhe reconheciam essas qualidades, como também, os adeptos dos adversários invejavam a escolha do Presidente leonino (eu próprio me incluo nesse lote).

Depois de uma época que deveria ter servido como ano zero inicialmente, mas onde o sucesso desportivo conseguido pelo low profile de Leonardo Jardim, fez saltar algumas etapas, a entrada directa na Champions, o entusiasmo da vibrante massa adepta sportinguista e a contratação de nomes como Nani, auguravam uma época ainda mais auspiciosa.

Volvidas que estão 13 jornadas, o cenário é contudo bem diferente do que o previsto. Um Benfica enfraquecido face à época passada lidera a Liga com 10 pontos de avanço sobre o rival de Lisboa, e o Sporting não tem conseguido capitalizar os deslizes do Porto e o início de época titubeante do Braga.

As causa do sub-rendimento sportinguista variam conforme o emissor da opinião. Para uns são os erros defensivos cometidos pelo eixo central, para outros é a queda de rendimento de William Carvalho, o mau planeamento da época no que a reforços diz respeito, ultimamente a lesão de Nani, e quando as coisas não correm bem, começa-se a pôr em causa a capacidade do técnico.

Contudo, ainda não ouvi ninguém falar do “condicionalismo presidencial”…

Quem já viveu o futebol por dentro e nos bancos, sabe que não é agradável para um treinador, ter o seu “patrão” sentado mesmo ali ao lado, escrutinando toda e qualquer decisão que possa tomar, muitas delas que deveriam ser sentidas e validadas apenas pelo grupo. Além do mais não existe um único treinador que se sinta confortável tendo outro treinador (ainda por cima um antigo campeão) mesmo ali ao lado. Seja director desportivo, delegado ou no papel de roupeiro.

É evidente que quando as coisas correm bem (como correram com Leonardo Jardim), ver o “patrão” irromper pelo campo em euforia para dar uma palmadinha nas costas e uns elogios ao staff técnico e jogadores sabe sempre bem, e é um sinal de apreciação do bom trabalho.

No entanto na hora das dificuldades é preciso saber dar um passo atrás e deixar trabalhar e crescer os seus profissionais. A pressão acrescida que se tem verificado em nada abona a evolução e o crescimento da equipa. E o que temos visto é precisamente isso. Nos momentos menos bons, temos assistido a acusações de falta de empenho aos jogadores, de tentativas de silenciamento de algumas declarações e a uma postura cada vez mais autoritária e mediática do responsável máximo do clube leonino.

A equipa do Sporting tem qualidade inegável, como demonstraram por exemplo nos jogos da Champions e nos principais jogos da Liga, Marco Silva não desaprendeu e Bruno de Carvalho continua na minha opinião a ser um Presidente com muitas virtudes, mas talvez esteja na hora de cada um assumir as suas responsabilidades e fazerem o seu trabalho, cada um no lugar para o qual foram contratados ou eleitos.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Flávio Trindade

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