São onze contra onze, e no fim ganha o Ronaldo

Saiu a lotaria a Portugal. Perdão, o Euromilhões. Não são todos os dias que aparecem jogadores capazes de marcar uma geração e colocar o seu nome entre os melhores de sempre, e este pequeno país teve a sorte de um desses ícones ter nascido no seu território. Sim, Cristiano Ronaldo é indiscutivelmente um dos melhores futebolistas da actualidade, a par de Messi, dificilmente deixará de figurar no Panteão do Futebol, é um ícone global, dono de uma aparência física e presença que não deixam ninguém indiferente, é uma marca reconhecida internacionalmente, e ainda tem o prazer de jogar naquele que será o mais mediático de todos os emblemas mundiais. Por tudo isto e algo mais, Cristiano Ronaldo é não só uma máquina de fazer golos e ganhar títulos e todo o tipo de troféus, mas também uma máquina de fazer dinheiro. Para ele, e para outros. Oh, e os outros não se importam nada de ordenhar a vaquinha, oh não. A começar pela Federação Portuguesa de Futebol, que usa o seu cabeça de cartaz para marcar uns amigáveis, e assim encaixar largas somas de dinheiro. Sem Ronaldo à cabeça, dificilmente alguma empresa pagaria 7 dígitos para ver jogar os bravos lusitanos, fosse em Old Trafford, fosse em Boston. Mas há mais quem se aproveite da sua imagem e reputação; até o seu clube formador o faz, colando-se a CR7 e às suas conquistas sempre que pode. Nada de mais, pois falamos de um (literalmente) embaixador do país no estrangeiro. Depois, há a comunicação social, que esmifra Ronaldo de toda a maneira e feitio; ela são entrevistas, declarações, polémicas, os prémios, os marcos de carreira, as teorias da conspiração, Cristinano está para a imprensa da bola como o Paris Hilton está para a cor-de-rosa. E não se coíbem de esconder a sua paixão, basta ouvir relatos de jogos da selecção nacional via televisão ou rádio, para percebermos que para a maior parte daqueles senhores a equipa se reduz a Ronaldo e mais dez rapazes, quase que aleatoriamente escolhidos para lhe servirem de pajens. No rescaldo do particular com a Argentina, por si já reduzido a um particular entre Ronaldo e Messi, um jornal generalista fez capa de que "Ronaldo venceu Messi", como se o futebol de um desporto individual se tratasse, e ainda por cima descurando o facto da vitória até ter sido obtida já na ausência de ambos. É verdade que, e voltando ao início, quem tem um talento deste tamanho à sua disposição, tem de o acarinhar, e quiçá dar-lhe algum tratamento preferencial em relação aos mortais. Mas o facto é que esta paranoia à volta do madeirense acaba por ter efeitos nefastos no próprio futebol português, e na selecção em particular. Não poucas vezes se viu e vê nos colegas uma obrigação de lhe colocar a bola, por mais marcado ou cansado que esteja, o que prejudica o jogo colectivo, e em última análise, o seu próprio desempenho, pois coloca-lhe nos ombros um peso que ele não tem sequer no Real Madrid. Por outro lado, e embora possam reconhecer a sua "subalternidade" relativamente ao semi-deus, não será propriamente motivante para jogadores com carreiras feitas, e de mérito comprovado, viverem na mais completa sombra, do mesmo modo que os jovens talentos que querem despontar, não o poderão fazer no medo de serem secados pelo eucalipto. O facto é que hoje a selecção nacional é Ronaldo, e para quem disso duvidar basta observar as linhas de orientação nas conferências de imprensa, mas pior, o futebol português acaba por também ele se limitar a Ronaldo. O que é perigoso, pois a não ser que a FPF tenha realizado avanços notáveis no campo da clonagem, aquele não vai durar para sempre. O presente da selecção, que tem vivido muito à custa do melhor do mundo, já é o que é. O futuro, nada risonho se adivinha. E pelo que se vê, ninguém parece preocupado com o ano I DCR. Apenas se preocupam em adorar aquele que a divina providência teve a bondade de colocar no nosso colo.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): Nuno Ranito 

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