Renovação da Seleção: Possíveis Cenários

Portugal passou de um cenário em que era urgentemente uma renovação para um patamar em que o que importa é convocar os melhores. Mas não seria esta uma boa oportunidade para fazer um equilíbrio entre o presente e o futuro?

Findo o período de Paulo Bento, muitas foram as esperanças depositadas em Fernando Santos, para que este pudesse ser o rosto da dita renovação. Mas com a primeira convocatória para os jogos com a França e para o quase decisivo encontro com a Dinamarca, e conhecidos que são os resultados, salta à vista que efectivamente um número bastante razoável de atletas que não figuravam nas escolhas de Paulo Bento, foram chamados, mas estreantes absolutos eram apenas três, José Fonte, Ivo Pinto e João Mário. Os restantes “novos”, são já conhecidos de outras batalhas. O que nos leva para a análise de como será feita a tão propalada renovação.

Tendo em conta os grupos de jovens talentosos que povoam as nossas Seleções mais jovens (dos Sub-21 aos Sub-17 há talento de sobra), teríamos motivos mais que suficientes para não estarmos preocupados. Contudo desses grupos, poucos são aqueles que já encontraram o seu espaço competitivo quer ao mais alto nível, quer até mesmo no espaço das equipas B, e se o momento de forma dos atletas (como disse e bem Fernando Santos) é critério decisivo, podemos estar mais uma vez a desperdiçar várias gerações para o futuro próximo. Logo, é de imaginar que a renovação não se dará no grupo de atletas à disposição, mas sim no plano táctico e motivacional. Em ambos os casos, operaram-se mudanças.

No plano táctico, a Selecção evoluiu do já enferrujado e batido 4-3-3 para um 4-4-2 hibrido, para potenciar a capacidade de finalização de Cristiano Ronaldo em terrenos interiores (como se viu com a Dinamarca) e para mascarar a ausência de um ponta de lança matador. Em teoria uma boa aposta de futuro, porque neste esquema além do “pormaior” citado acima, permite também à equipa reforçar o meio-campo com mais uma unidade. As fragilidades prendem-se acima de tudo com o apoio dos interiores aos laterais, situação corrigida na Dinamarca (com a entrada de William) mas por demais evidente com a França. No plano motivacional, já vários jogadores vieram a terreiro manifestar o seu agrado com o actual momento e a “nova Selecção” de Fernando Santos. Resta saber se é uma situação para manter, ou apenas o fruto imediato da chicotada psicológica, ficando expostas as vulnerabilidades ao primeiro mau resultado.

Quanto à renovação nos nomes e na injeção de talento…ficará para outras batalhas certamente! Está mais que visto, que mesmo neste alargado lote das 24 primeiras escolhas, há jogadores que não têm qualidade para representar a Selecção, bem como alguns outros que num cenário ideal e na curva descendente das suas carreiras já não deveriam figurar no 11 titular, embora pudessem ser escolhas para opção pela sua experiência.

Depois do trajecto imaculado e fantástico dos Sub-21, bem como dos excelentes resultados dos Sub-19 e Sub-17 num passado recente, parece-me evidente que numa primeira fase nomes como Ilori, Raphael Guerreiro, Rúben Neves, Bernardo Silva e Rony Lopes deveriam juntar-se de imediato a nomes como André Gomes, João Mário, William e Bruma, até porque nem têm menos talento (muito pelo contrário), nem somam menos minutos que muitos dos nomes que foram agora convocados.

A renovação tem que ser feita já sob pena de se continuarem a perder os jovens talentos lusos, bem como porque o momento não poderia ser melhor. A qualificação é alargada, o grupo é acessível e apenas de 5 Selecções (e depois dos lamentáveis acidentes no Sérvia- Albânia, dada a mão pesada da UEFA, não sei se já não estarão definidas as equipas qualificadas…) e o momento não poderia ser mais perfeito. A Fernando Santos exige-se ambição e coragem para dar a pedrada no charco do futebol português, e não uma continuação da novela dos lobbies e dos grupos de amigos.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Flávio Trindade

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