Muita quantidade mas apenas uma mais-valia

Fechado que está o período de transferências nacional, é hora de fazer um balanço do que foi o defeso do Sporting. Os leões, depois de uma época zero bem conseguida considerando as expectativas iniciais, atacaram o mercado com a etiqueta declarada de candidato ao título, o que fez aumentar o grau de exigência para com os reforços. É certo que os adeptos não esquecem as restrições financeiras, impeditivas da chegada de trutas (a não ser que sejam trutas de aquicultura, mais baratas mas menos saborosas), que trazem atreladas fortes investimentos em termos de aquisição e salários gordos, mas a confiança no trabalho da Direcção fez sonhar até ao fim com a possibilidade de reforçar o grupo com 2 ou 3 elementos acima da média. Foi o que aconteceu com a chegada de Nani (embora seja um reforço com prazo de validade limitado), na realidade o único atleta com cartel firmado que aterrou em Alvalade, e que dificilmente deixará de trazer mais-valias desportivas. Mas a chegada do extremo formado nos leões não foi a única boa notícia; a manutenção de William Carvalho e Slimani nos quadros estará ao mesmo nível. Os dois internacionais tinham mercado, e poderiam ter permitido encaixes interessantes e indispensáveis à recuperação financeira, mas convenhamos, nenhum dos dois tem substituto à altura no actual plantel; o português pela sua qualidade, o argelino pelas suas características físicas. No espectro oposto, o Sporting viu partir aquela que poderia ser a sua dupla de centrais titular. Rojo, após cenas feias e remorsos sentidos, partiu para Inglaterra, onde irá conviver com Eric Dier, também ele transaccionado num processo polémico. Visto que uma das vantagens do Sporting era manter a sua estrutura de 2013/14, estas saídas foram um rude golpe na preparação da temporada. Felizmente para os leões, a Direcção contratou centrais aos magotes, e para fazer companhia a Maurício chegaram Sarr, Paulo Oliveira e Rabia. O problema é que o brasileiro continua a mostrar evidentes lacunas quando confrontado com adversários mais fortes, e é um perigo à solta, para o seu último reduto, com a bola no pé. Chegará certamente para boa parte da Liga (até porque a maioria das equipas joga fechada nos últimos 30 metros e não pressiona), mas não mostra andamento para uma Liga dos Campeões. No entanto, os três possíveis parceiros são ainda jovens, e ainda não têm a capacidade de liderança necessária para o encostar, e embora Sarr já mostre qualidade, falta saber o que vale Rabia e o quanto pesa a camisola de Oliveira. Voltando às compras, destaque para uma política de ataque a mercados alternativos, e por isso mais baratos (o Sporting voltou a pescar nos EUA, foi ao Egipto, e regressou ao país que lhe deu Balakov e Iordanov), e numa aposta em jogadores jovens e com margem de valorização desportiva e financeira. Este é um ponto sensível, pois a chegada de jovens estrangeiros choca um pouco com a aposta, que é real e por enquanto indesmentível, na sua formação. É verdade que os canteranos são maioria nas principais opções de Marco Silva, mas também é verdade que homens como Gauld e Sacko, pese o seu potencial, tiram espaço aos jovens leões enquanto alternativas de segunda linha, até porque trazem o peso de terem custos financeiros associados à sua chegada, o que lhes pode dar alguma "vantagem". A estratégia de construção do plantel, passou essencialmente pelo engrossar do número de opções, em detrimento de reforços que entrassem "de imediato" no 11 principal. A posição com maior défice de qualidade continua a ser a de médio ofensivo, entregue por enquanto a André Martins. O médio, embora intenso e pressionante, não tem capacidade de drible, passe ou remate que lhe permita fazer a diferença em terrenos mais avançados. Estando João Mário na lista de espera e Gauld na incubadora, resta saber de o lugar será entregue a Mané, ou a Montero, agora que Slimani chegou para jogar na frente. Ainda no que respeita a reforços, Jefferson irá finalmente ter alternativa (o ano passado era mais que indispensável, visto que a opção era Piris), Cedric será secundado por Esgaio (Geraldes é o maior candidato a flop do ano), e é preciso saber qual o papel de Sacko, o de extremo ou avançado. Resumindo, e sabendo que os reforços são como os melões, assume-se que o critério aumentou relativamente ao defeso passado, no qual chegaram a Alvalade elementos que foram nulidades (Welder, Magrão, Matias Perez) ou que dificilmente serão relevantes (Shikabala, Heldon). Por último, falemos de saídas. Mesmo considerando que os rumores valem o que valem, a Direcção terá falhado a tentativa de colocar Capel. O espanhol ganha muito, rende pouco, e apesar da sua abnegação, o seu estilo de jogo está longe de encaixar no futebol de Marco Silva. Heldon também parece ter pouco espaço (há Sacko, Mané, Drame), pelo que é um excedentário que faltou colocar. E Shikabala, o tal desequilibrador de mau feitio, segundo Manuel José, que teve mais impacto nas redes sociais do que no relvado, é outro parece estar a mais. Faltou alguma "habilidade" para colocar estes jogadores (nestes casos ajuda ter empresários amigos, ou ex-treinadores agradecidos), de modo a limpar o plantel de elementos que pouco farão do que ocupar espaço. Em jeito de remate, pode dizer-se que o defeso do Sporting não se pode considerar um sucesso garantido ou um fracasso inegável. Teve os seus pontos altos (Nani, William), os seus pontos baixos (saídas simultâneas de Rojo e Dier), e grandes interrogações (Gauld). Mas afinal, só no fim da época é que se podem tirar conclusões.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): Nuno Ranito 

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