"Espaço José Marinho": Mais meio campo mas menos poder de fogo

Agora que fechou o mercado é importante realçar duas coisas na composição do plantel do Benfica. Uma, que o Enzo ficou e isso ajudará a resolver muitos problemas. Mas não resolve todos. Um dos problemas que não resolverá é o que existe no ataque. É impossível fechar os olhos a esse problema, porque ele existe e sobretudo, em cada jogo que se completa, é uma espécie de detonador de consciências. E a desilusão dos benfiquistas é aceitável, à luz da existência deste problema. A contratação do médio Cristante é boa, porque não se limita a repor a qualidade que já existia, chega mesmo a acrescentá-la. Mas deixa quase tudo na mesma, principalmente depois de assegurada a permanência de Enzo. Porque o que verdadeiramente faria a diferença, neste último dia de mercado, seria a contratação de um avançado credível, competente e que trouxesse golos à equipa. Claro que, pessoalmente, nunca acreditei muito que a direcção do Benfica conseguisse, num dia, encontrar aquilo que não conseguiu, ou não tentou, em vários meses.

Sendo assim, o Benfica enfrenta a temporada com um bom plantel, de novo com muita qualidade para tornar a equipa competitiva, mas, pela primeira vez em vários anos, sem um único avançado que faça a diferença. E esse é o tipo de decisões que pode comprometer todas as outras. O plantel é bom, a equipa será tão competente como as outras, mais recentes, mas falta ainda ver de que forma reagirá a essa novidade de não ter um avançado letal que possa transformar em golos a evidente qualidade da equipa e do plantel.

E é aqui que Jesus terá de demonstrar a sua auto-proclamada tendência para potencializar jogadores. Ou arranja um avançado que dê garantias à equipa, procurando-o entre os jogadores de que dispõe e que pediu ou programa a equipa de uma forma diferente, permitindo que a falta de um avançado se torne mais um traço de personalidade táctica e menos um problema. Se conseguir arranjar um avançado à altura da equipa, então prevalecerá a ideia de que é uma espécie de Rei Midas da potencialização de jogadores. Se conseguir programar a equipa para que ela não dependa tanto da eficácia dos seus avançados, então dar-me-á razão, quando o considero, principalmente, um potencializador de equipas, muito mais do que um potencializador de jogadores.

Há uma terceira opção, que é Jesus não conseguir fazer nem uma coisa nem outra. Se isso acontecer, será uma época perdida e os erros na elaboração do plantel serão maiores do que as boas escolhas que permitem ainda assim manter as expectativas.

José Marinho, comentador da Sport TV e Manager da Makefoot

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