Clássico com Benfica a ver de cima

Sporting e Porto encontram-se à sexta jornada, em mais um clássico do futebol nacional, e numa posição em que a perda de pontos pode significar ver deixar fugir o Benfica, que já lidera de modo isolado a classificação. É verdade que falta muito campeonato e é demasiado cedo para fazer contas, mas é sabido que a Liga portuguesa não prima pela competitividade dos seus intervenientes, e muitas vezes o simples reforço do ânimo de ver os rivais lá longe chega para vencer os jogos mais complicados. Curiosamente, os dois emblemas vão encontrar-se em pólos opostos no que respeita à confiança, isto depois de entrarem na última jornada em situação inversa. O Sporting viera de um empate frente aos albaneses da Eslovénia, que deixou os adeptos, dos anónimos aos mais notáveis, à beira de um ataque de nervos. Pediu-se a cabeça do treinador numa bandeja, os reforços não prestam, o futebol do Jardim é que era bom, o William está gordo, o Adrien está magro, foi um carpir de mágoas. Já o Porto enfiara meia dúzia no cabaz de uns bielorrussos, numa goleada histórica para os dragões, Lopetegui era a reencarnação de Pedroto com sotaque espanhol, e os jogadores formavam um bloco avassalador impossível de ser travado. No final da noite de Domingo, já Marco Silva liderava uma máquina impecável, e Lopetegui era um inapto incapaz de bater uma equipa vinda dos Nacionais. Devaneios à parte, e postos de lado os sentimentos de depressão e euforia, o facto é que ambas as partes partem pressionadas, não só pelo resultado e pelos pontos em disputa, mas também pelo facto de terem de usar este jogo como uma demonstração de força perante o adversário directo, e não só.

Posto isto, passemos ao jogo. O Sporting terá a seu favor o factor casa, e o facto de uma vitória permitir ultrapassar os dragões serve como factor de motivação extra. A História, valendo o que vale, joga a favor dos leões, pois o adversário de sexta tem sido bom "cliente" em Alvalade nos últimos anos (o FC Porto não vence em Alvalade desde o 2-1 de 2008). Marco Silva tem aqui o primeiro teste "à séria" em casa (do outro lado está também um treinador inexperiente nestas coisas de jogos grandes entre clubes), e não pode deixar passar a oportunidade de cimentar a sua posição perante a massa associativa. O ponto fraco da equipa, pese o nulo em Barcelos, continua a ser a defesa. Cedric (recuperado de lesão) e Jefferson (é duvidoso que Marco Silva lance Jonathan) ainda estão abaixo do que podem fazer, e a dupla de centrais tem sido uma dor de cabeça. Maurício entrou na época como indiscutível, o que mostra o quão debilitado este sector está (ao contrário do ano passado, será certamente arredado da titularidade mais cedo ou mais tarde, seja por Rabia, Tobias ou Paulo Oiveira); já Sarr foi completamente atirado aos tubarões, após a saída de Rojo. O francês não tem estado mal, mas é claro que precisa de um elemento mais rápido e competente a seu lado. Outro ponto que tem contribuído para a menor coesão defensiva é o momento de forma de William Carvalho, que se tem mostrado lento e algo preso de movimentos neste início de temporada, sendo imperativo que o médio esteja perto do seu melhor. Adrien, apesar de algumas críticas injustificadas (é complicado quando se tem de jogar por dois), continua a marcar o ritmo, e agora até marca golos em remates de longe, algo que traz outro tipo de opções a um ataque que se dizia viver quase exclusivamente de cruzamentos. O terceiro elemento deve ser o "reforço" João Mário, em detrimento de André Martins. Perde o Sporting em intensidade, mas ganha um elemento que faz aquilo que se pede a um médio ofensivo: passes de ruptura e presença em zonas de finalização. No ataque, Slimani tentará fazer estragos, coadjuvado por Nani e Carrillo. O peruano começou em grande, com golos e assistências, e Marco Silva não deve abdicar dele em detrimento da abnegação de Capel. Já o português, começa a mostrar-se como elemento muito acima da média que é, e capaz de carregar a equipa às costas, sendo que é neste tipo de jogos que ele tem de actuar ao nível das suas capacidades, isto se quiser regressar à ribalta do futebol europeu.

Do outro lado, Lopetegui entra em campo debaixo de uma capa de desconfiança. Desconfiança em relação à gestão do plantel, do modelo, e das substituições. E sabendo nós que três empates seguidos não são "à Porto", é de esperar uma resposta à altura dos seus comandados. A constante rotação torna o exercício de adivinhar o onze inicial complicado, mas é de arriscar que Fabiano irá regressar à baliza, bem como Danilo e Alex Sandro às alas. Os laterais, altamente ofensivos, terão de ter redobrados cuidados com os extremos leoninos, embora a sua propensão ofensiva também possa servir para desgastar aqueles. Com Maicon, líder da defesa, de fora, Martins Indi deve ter a companhia de Marcano, sendo que a falta de entrosamento entre ambos pode ser um factor a aproveitar pelo ataque do Sporting (ainda por cima são os 2 esquerdinos). O Porto, apesar do regresso de Óliver (que pode ser opção na ala), também não deve abdicar dos seus três médios mais de contenção, Casemiro, Ruben e Herrera, que servem de sustentação ao modelo de jogo baseado na posse de bola. Este será um ponto interessante, o de ver como o Porto se comporta perante um oponente que não deve estar disposto a dar a bola, ao contrário do que aconteceu com o Lille, por exemplo. Na frente estão as armas de arremesso portistas, Óliver ou extremos rápidos (Quaresma, Tello ou Adrian podem ser titulares), e o ponta de lança Jackson Martinez, que irão encaixar nos pontos mais frágeis do adversário. O colombiano será o inimigo número um da defesa do Sporting, e poucos não acreditam que não fará danos, desde que devidamente assistido. Claro que é expectável que o Porto não tenha um volume ofensivo elevado, pelo que o grau de eficácia de Jackson pode ser um ponto decisivo. Por fim, há Brahimi, que tem sido o homem mais para os lados do Dragão. O argelino, para lá dos raides estonteantes, tem mostrado ser letal em livres frontais, o que obrigará Maurício a ter cuidado com os contactos perto da sua área.

Em jeito de conclusão, pode afirmar-se que em Alvalade se irão encontrar duas equipas ainda com arestas a limar. O centro da defesa do Sporting é frágil, mas a ausência de Maicon do outro lado não transmite confiança. Carrillo, Nani, Brahimi ou Tello pode decidir o jogo quase que sozinhos. Slimani vai massacrar os centrais portistas, enquanto que Jackson irá semear o pânico perto de Patrício. As subidas dos laterais (os quatro supostos titulares são todos ofensivos) podem ser factor destabilizador. E a luta 3x3 no meio-campo será épica, com pressão intensa de lado a lado. Os intervenientes têm qualidade, e em véspera de jornada europeia, nada parece faltar para um grande espectáculo.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): Nuno Ranito 

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