A comunicação social vai continuar a abafar esta vergonha

O espectáculo deprimente com que a Selecção Nacional brindou o país no passado Domingo não pode ter surpreendido alguém. Ou melhor, pode ter surpreendido aqueles que optaram por reduzir uma fase de apuramento abaixo de medíocre num grupo fraquíssimo a um mau alívio de Rui Patrício no penúltimo jogo, ou que preferiram justificar a péssima campanha no Brasil com uma sucessão de azares e acasos infelizes. Independentemente do resultado, que acaba por ser o menos relevante para a discussão, a exibição da Selecção foi completamente em linha com o demonstrado nos últimos anos, pelo que a derrota acaba por ser o corolário de uma espécie de evolução na mediocridade, restando saber apenas se este foi o ponto mais baixo do percurso, ou se ainda vamos a meio caminho. Hoje é fácil bater em Paulo Bento, em Cavaleiro ou discutir quem foi mais lento, William ou André Gomes, mas estes até acabam por ser os menos culpados. Os jogadores, coitados, fazem o que podem e sabem, sendo que alguns, apesar de endeusados por um imprensa cada vez mais sensacionalista e menos fiável, podem e sabem muito pouco. Quanto a Bento, é outro que faz o que sabe fazer, e que em nada surpreende, dado o seu (curto) currículo a nível disciplinar e táctico enquanto treinador. É claro que, perante sucessivas convocatórias ad-hoc e decisões técnicas absurdas, o treinador/seleccionador mostra não ser solução, mas está igualmente longe de ser o problema. Este tem raízes mais profundas, e passa por uma organização que deveria pensar o futebol português, mas que se tem limitado a gerir verbas provenientes das participações internacionais da selecção (bem como dinheiros de patrocínios e jogos particulares alavancados no melhor jogador do Mundo), e cuja obra recente passou por recuperar o Poder perdido anteriormente para a Liga em termos de Justiça e Arbitragem. Mas rebobinemos um pouco o filme. Terminado o Mundial, era hora de fazer um balanço. E o que aconteceu? Tirando alguns ódios de estimação, desde comentadores que não apreciam Bento, até ex-futuros-seleccionadores com contas a ajustar com a Federação, não se passou nada. Não houve debate, não houve responsabilização, a imprensa amiga passou uma esponja sobre o assunto, enquanto os adeptos se viraram para aquilo que realmente interessa, o mercado de transferências. Perante o adormecimento do país futebolístico, Gomes, Bento e Amigos usaram de uma estratégia de sobrevivência utilizada por várias espécies animais, como o gambá: fizeram-se de mortos até que a ameaça desaparecesse. Passados poucos meses, e no meio da excitação provocada pelos Taliscas e Nanis, vieram apresentar uma mão cheia de nada, e tal como Passos Coelho culpa os funcionários públicos pelo estado do país, apontaram o dedo acusador ao corpo médico, iniciando assim um novo ciclo, de renovação, como se diz. Mais uma vez nada se passa, nada se questiona, nem o facto de um seleccionador manifestamente incompetente e que falhou os objectivos traçados, ter ficado com ainda mais poder. Felizmente para Bento e Cia, este fim de semana joga o Benfica. E a Liga dos Campeões vai em breve iniciar-se. Chega e sobra para silenciar esta triste nação, até que a próxima "inesperada" derrota crie nova vaga de indignação que a varra novamente.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): Nuno Ranito 

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