Obviamente demito-o!

Encerrada que foi a campanha lusitana por terras de Vera Cruz, e depois de assente a poeira e feitas as mais diversas considerações, as atenções focaram-se quase que exclusivamente na continuidade de Paulo Bento ao comando da Selecção. Por outras palavras, questiona-se se o actual seleccionador teria condições para continuar o seu trabalho. Não obstante todos os condicionalismos, tais como a recente renovação de contrato, e os elogios públicos por parte de Fernando Gomes, a resposta é simples, e passa por um redondo "Não!". Assumindo que Paulo Bento não se demite, ou sequer coloca o seu lugar à disposição, a solução passa pela óbvia demissão, pois se lições se podem tirar da participação no Mundial, é a de que o seleccionador não possui capacidades para o cargo. Mesmo considerando que a matéria prima existente está num nível bem abaixo da disponibilizada a Scolari e Humberto Coelho, por exemplo, factos são factos, e não só os resultados foram paupérrimos, mas principalmente, e até mais importante, a imagem deixada foi de uma mediocridade gritante. Portugal apresentou uma equipa sem fio de jogo, cansada, apática, e com uma quantidade de lesões que provavelmente entra no livro dos recordes. Mas mais grave que isso, é a completa recusa do seleccionador em assumir os erros cometidos. Errar é humano, todos falham, mas normalmente as pessoas inteligentes e competentes aprendem com esses erros, e procuram corrigi-los de modo a evitá-los no futuro. O discurso de Paulo Bento é o oposto: tal como fez inúmeras vezes no Sporting, deu a cara e assumiu a derrota, mas curiosamente não explica muito bem em quê a sua culpa se baseia, refugiando-se nos pormenores técnico-tácticos. O resto? Bem, o resto foi simplesmente azar. Tudo foi bem feito, desde o estágio, até à digressão, passando pela desnecessária adaptação ao clima. Simplesmente, as coisas correram pelo pior. Sim, é verdade que o futebol não é uma ciência exacta, e os pormenores fazem a diferença entre uma vitória e uma derrota, mas há aspectos que se podem pelo menos tentar controlar. Tais como a capacidade física dos atletas, tema muito falado. Os jogadores portugueses caíram literalmente que nem tordos, alguns após breves minutos de competição. Azar? Ou consequência de convocar jogadores em clara decadência física, com pouco tempo de jogo durante a temporada e longas paragens por lesão? Outros ainda se aguentaram livres de mazelas, mas o ritmo apresentado foi muito abaixo do exigido por uma prova com este grau de exigência. O estado físico de cada atleta foi aferido antes da ida para estágio? O seleccionador não sabia que certos jogadores não tinham as condições mínimas, ou sabia, e mesmo assim optou por chamar esses elementos? Depois, há a questão da convocatória. Paulo Bento defende que esta foi baseada em critérios desportivos. E claro, juntando ao "mérito", o factor "gratidão". Ou seja, Bento chamou o seu grupo, que o carregou durante o apuramento, e adicionou os supostos "melhores". Olhando para quem foi e para quem ficou, é difícil não esboçar um sorriso. E também não é difícil adivinhar o que aí vem: mais do mesmo, mais dos mesmos. Numa altura em que a selecção precisa de uma renovação, ou mesmo de uma revolução, num cenário em que boa parte do núcleo duro (a quem muito devemos, verdade seja dita) está em claro plano descendente, temos ao leme um indivíduo que mostra uma fidelidade cega ao seu grupo de confiança, mesmo que isso ponha em causa os objectivos desportivos. Para terminar, falemos da qualidade de jogo apresentada. Ao fim de dois anos a gerir um grupo estável, é penoso ver uma equipa desgarrada, com um modelo táctico imutável qualquer que seja o opositor, com as mesmas escolhas para cada posição, e cujo jogo ofensivo se baseia em jogadas individuais, ou em bolas para o Ronaldo. Aliás, quem viu os jogos, apercebeu-se de que os colegas só tinham olhos para CR7, abdicando muitas vezes de melhores soluções. Resta saber se este comportamento se deveu a ordens do treinador, ou se foi mero reflexo de uma equipa centrada (em todos os aspectos, tácticos, mediáticos e não só) no avançado do Real, sendo que, se tal fosse o caso, cabia ao treinador corrigi-lo. De qualquer modo, ninguém se pode mostrar surpreendido em relação às exibições, pois estas estiveram em linha com as mostradas na fase de apuramento, na qual Portugal defrontou, sem conseguir vencer e mostrar um futebol atraente, potências como a Irlanda do Norte ou Israel. Os defensores do seleccionador argumentam que a campanha foi condicionada pela derrota inicial, e que tudo terá falhado a partir daí, corroborando a teoria de que, até aí, tudo correra pelo melhor, incluindo as escolhas para o onze inicial e toda a abordagem ao próprio jogo. Ou seja, a goleada imposta pela Alemanha foi uma causa, e não uma consequência. É verdade que as consequências físicas e psicológicas foram devastadoras, mas Portugal encarou o segundo jogo, perante um adversário muito inferior, a depender apenas de si próprio. Apenas teria de mostrar a sua natural superioridade. Não foi bem o que aconteceu, pois não? Provavelmente devido a pormenores técnicos e questões tácticas, jamais devido às escolhas do treinador. Em jeito de conclusão, temos um senhor que fez tudo bem, acertou em todas as decisões, fez as escolhas correctas. Porém, tudo o que podia correr mal, correu mal. Assim sendo, alguém estará seriamente equivocado, e pessoalmente, acredito que esse alguém seja Paulo Bento. Por isso mesmo, e respondendo à questão, "Sr. colaborador do VM, se for eleito Presidente da FPF, que fará do sr. Seleccionador Nacional?"...

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): Nuno Ranito 

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