Anthony Lopes e Aladje são mais portugueses que Marquinhos ou Douglas Costa? Bruma sente mais Portugal que Fernando?

Só porque nasceste num estábulo, não significa que sejas um cavalo. A discussão é a mesma, mas os problemas também o são. Não será a Visão de Mercado a desmistificá-lo, mas é-nos legítimo apontar alguns exemplos, algumas soluções, que facilmente suavizariam a mente da mente mais céptica. A questão é: iriam estes jogadores acrescentar qualidade-extra à nossa selecção?

Não há outra forma de encarar a problemática quase quezilenta e capaz de fazer saltar os nervos patriotas. Não há porquê? Fácil: alguém levantou a voz quando Aladje ou Anthony Lopes jogaram por Portugal? Ambos nascidos fora de território de Camões, ambos criados e crescidos longe deste deformado rectângulo que se abre ao Atlântico (nunca jogaram ou viveram no nosso País). Mesmo quando o argumento do puritano assenta no tempo de permanência interna, facilmente é desfeito por um facto exemplar: em 2007, chegavam a Portugal dois talentos. Um dirigiu-se à Academia de Alcochete, o outro para as oficinas do FC Porto. Um dá pelo nome de Bruma, o outro de Fernando. Não só partilham o timing de chegada, como outra realidade indesmentível: de portugueses tem zero. Entretanto, Bruma tornou-se uma das maiores promessas das selecções jovens portuguesas. Fernando teria a mesma hipótese na mente de muitos? Não nos parece. E olhem que Fernando, com a partida de Bruma para a Turquia, até reside há mais tempo por cá...

E se vos disséssemos que, depois de Deco, a solução encontra-se na fria Ucrânia? Douglas Costa, fantástico médio-ofensivo do Shakhtar Donetsk, é o feliz proprietário de um passaporte que o apresenta com dupla-nacionalidade. Portuguesa, e brasileira, país onde nunca foi, nem será aproveitado. Aviva-se a pergunta retórica: acrescentaria qualidade? E Marquinhos, central mais promissor do Mundo (ler aqui)?

A ideia é a de que, de alguma forma, a imigração no futebol não é algo natural. Aceitamos ver aquela equipa holandesa (ou francesa) racialmente colorida, porque sabemos, de antemão, que isso faz parte da história e processo migratório de gerações passadas. Xenofobia não se coaduna com a necessidade que emerge de um negócio altamente rentável como é o futebol e, para Marquinhos demonstrar interesse em representar Portugal, é porque é inteligente o suficiente para perceber isso. E nós, quando nos deixaremos de sentimentos bacocos face a um negócio que em nada representa o valor moral de uma nação?

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): A.Borges

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