E os burros são eles?

Torres, Negredo, Soldado, Llorente, Villa. Diego Costa? A melhor Selecção do Mundo pretende o avançado brasileiro. Situação que promete agitar as duas Federações, já que Scolari também não parece disposto a perder o dianteiro do Atlético de Madrid, tendo mesmo prioridade nesta matéria (e o Colchonero a jogar como está até tem fortes hipóteses de ser titular no Mundial); Posto isto, o que importa aqui destacar é que a Federação Espanhola, tal como os seus adeptos, não têm problemas em recorrer a um naturalizado. La Roja, com mais opções e melhor qualidade no geral que a Selecção Portuguesa, não se preocupa com polémicas na hora de chamar estrangeiros com nacionalidade espanhola – então, por que razão temos nós? Já por altura do Mundial 2006, a Espanha “adoptou” Marcos Senna; agora, Diego Costa está a jogar uma barbaridade (marca e joga que se farta) e pretendem tê-lo nas suas fileiras. Por que razão é que nós, com uma Selecção substancialmente mais fraca e com não duas, nem uma, mas zero opções válidas para certas posições, encontramos constantemente entraves na hora de chamar um jogador naturalizado?

Na realidade, a manobra da Selecção Espanhola é duplamente eficaz: não só podia ficar com um jogador fantástico, como “rouba” o mesmo a um dos seus grandes rivais para o Campeonato do Mundo de 2014. Na nossa situação, até seria diferente. Por que não olhar da mesma forma que os espanhóis olham para Diego Costa, para jogadores da nossa Liga como Lima, Maicon ou Fernando? Alves e Pepe não caminham para novos e de opções viáveis só temos Neto; Custódio está em má forma, Meireles já deu o que tinha a dar, André Leão não tem qualidade para a Selecção e William Carvalho ainda tem de amadurecer; e na frente precisamos de mais soluções. Lima, Maicon e Fernando são jogadores de créditos firmados e que seriam excelentes mais-valias. Por que não? Não estaríamos a roubar opções à Canarinha, que está bem guarnecida em todas estas posições (Fred, Damião, Jô; Luiz Gustavo, Fernando (Shakhtar); Thiago Silva, David Luiz, Dante; etc), mas estaríamos nós próprios a preencher lacunas graves com jogadores de qualidade bem acima da média.

Claro que bonito, bonito é ter apenas portugueses “de gema” na Selecção. Mas então Nani, Bosingwa e Danny (nenhum deles nasceu cá e cada um vive fora há seis, cinco e oito anos) também não têm direito de ser chamados. Em que é que qualquer um dos supracitados é mais português que Lima, Maicon ou Fernando (cá há cerca de quatro, cinco e seis anos seguidos, respectivamente)? Será Pepe menos português que qualquer um de nós? Sim, Pepe, naturalizado que tem alma mais lusa que muitos e que dá tudo pela Selecção, carregando na camisola uma emoção e uma vida que decerto vários invejam. E Deco? Para não falar da vaga de jogadores africanos que têm “invadido” as nossas camadas jovens: Bruma, William Carvalho, Cá, Hélder Costa, Aladje, Idrisa Sambu, Moreto Cassamá, entre muitos outros têm tanto direito a nacionalidade portuguesa quando Nani, Pepe ou Fernando. Ou Ilori, a mistura mais explosiva de todas: pai inglês de ascendência nigeriana e mãe portuguesa, nascido em Londres e que… os ingleses querem “puxar” para a sua Selecção! A Itália não teve problemas em chamar Osvaldo ou Thiago Motta, a história da França neste capítulo também é bem conhecida e mesmo a Alemanha apresenta como principal goleador, um jogador nascido na Polónia (Klose).

É pura e simplesmente uma questão de saber o que é melhor para a Selecção. Claro que não se vai começar a convocar qualquer estrangeiro que apareça, nem é isso que se pede neste artigo. Contudo, confrontemo-nos com a verdade: há inúmeras posições em que estamos severamente desfalcados e uma ajuda não seria de recusar. Se até a toda-poderosa Espanha incorre em tais métodos, por que razão não podemos também nós incorrer? Neste momento, não o fazemos mais por orgulho e teimosia que qualquer outra coisa. E teimosia a mais é burrice – aliás, quem é mais burro? O que cede perante a razão ou o que se mantém firme perante toda a evidência em contrário?

Visão da Leitora (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): Inês Sampaio 

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