Visão do Leitor: Sporting - Eleições: E o que vai mudar?

Sócios em fúria, dirigentes em ebulição, futuros candidatos cantando por justiça. Era este o panorama do Sporting nas semanas prévias à demissão da direcção de Godinho Lopes. O título era uma impossibilidade, a Champions um sonho, a Liga Europa uma miragem. Exigia-se mudança - eleições trazem isso mesmo. Mas o que é que vai mudar?

Se há dois anos o objectivo era lutar pelo título, a meio desta época as ambições sportinguistas começaram a ser outras. Godinho arriscou inicialmente para ganhar o campeonato, mas após um ano compreendeu que tal era impossível. Assim seria enquanto as contas não fossem sanadas, enquanto a estrutura não se regularizasse, enquanto os corredores não fossem limpos, enquanto muita coisa que tem de ser feita com urgência não se fizesse. A actual direcção apostou na formação, desfez-se de vários activos com um salário demasiado chorudo e mandou embora elementos danosos para o balneário. Apostou-se na formação e em fazer os jovens crescer - esses mesmos jovens que no futuro poderão providenciar ao Sporting as transferências acima dos 15M de que o clube leonino tanto precisa. Cedo se tornou claro que pelo menos até daqui a três anos seria absurdo pensar no terceiro lugar, quanto mais no primeiro. Agora, chegam os três candidatos e reiteram: é ridículo falar em títulos até daqui a, pelo menos, três anos. Então, o que mudaria tanto que se tornou tão urgente assim despedir Godinho e companhia?

É necessário apostar na formação e acabar com a contratação de pseudo-estrelas. Dos reforços dos últimos dois anos, apenas RVW, Rojo, Insúa (já vendido por valores risíveis), Labyad (custo zero) e Carrillo fizeram sentido e deram efectivamente algo à equipa em termos desportivos. Boeck, Miguel Lopes, Joãozinho foram os únicos na nova política de aposta interna, compras acertadas que se adequam ao actual estado do clube. Arías e Rubio (os dois para a equipa A, ainda na equipa B) estão incluídos nos jovens que mais tarde poderão engordar os cofres verde-e-brancos. Godinho começou a fazer isso mesmo a meio deste ano, os três candidatos insistem nessa mesma política. Então, o que mudaria tanto que se tornou tão urgente assim despedir Godinho e companhia?

O técnico de presente e futuro da actual direcção é Jesualdo Ferreira que, sem ser um génio, tem potenciado as jovens promessas dos leões. Tem perdido muitos pontos, sem dúvida, mas tem ganho outros que Sá Pinto, Oceano e Vercauteren falharam em conquistar. O seu objectivo é chegar à Europa, está a míseros três pontos desse objectivo, e já afastou com contundência a possibilidade do título nos próximos anos. Está aqui para fazer o Sporting crescer e mantê-lo estável durante os próximos anos, enquanto a estrutura se renova, os sócios engolem a nova condição de equipa do meio da tabela e as contas se regularizam. Não está aqui para ganhar campeonatos e o próprio tornou isso bem claro - o máximo a que os leões poderão aspirar nos próximos anos são a Taça de Portugal e a Taça da Liga e isso devido aos moldes de ambas as competições. Os próprios candidatos evidenciaram essa linha de pensamento. Então, o que mudaria tanto que se tornou tão urgente assim despedir Godinho e companhia?

Godinho desde cedo trouxe investidores, injectou cerca de 30M no Sporting, fechou os cofres a sete chaves neste último semestre e libertou a folha salarial de forma massiva. Conseguiu pagar salários aos jogadores, manter (apesar do caos em seu redor) a ordem num clube perdido e fez um grande trabalho nas modalidades - sim, que o Sporting não é só o futebol de onze. Os novos candidatos propõem-se a trazer "vários investidores", todos sem nome, contactos, origem ou provas de confiança. Exactamente igual ao que o actual presidente leonino prometeu. Então, o que mudaria tanto que se tornou tão urgente assim despedir Godinho e companhia?

Nada. Nada de nada. Se o Sporting vai continuar arredado dos títulos, alejado da Champions, a apostar na formação, a desistir da contratação de pseudo-super-estrelas, a libertar a folha salarial, a explorar o mercado interno, a segurar Jesualdo e a apostar em investidores, mais valeria deixar as coisas como estão: revoluções só trazem instabilidade, exactamente o contrário do que o clube verde-e-branco necessita. Para haver mudança, que se corte radicalmente com o passado. Que haja uma clivagem evidente com a política dos últimos anos, inclusive dos últimos meses. Para haver mudança, que o clube aprenda a afastar os "adeptos famosos" que parecem tirar proveito dos cinco minutos de fama que difamar o clube lhes oferece. Para haver mudança, que haja a garantia de títulos nos próximos três anos, que se prometa a Champions, que a formação dê frutos JÁ, que se contrate as estrelas certas, que se contrate Jorge Jesus e que haja uma solução para a crise financeira do clube no imediato. Porque se é ficar tudo como está, mais valeria ninguém se candidatar - até porque o Sporting parecia finalmente estar no bom caminho...

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): Tiago Sousa

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