Visão de Mercado: A difícil relação entre os portugueses e o Desporto

A relação entre os amantes do futebol e a selecção nacional de Portugal poderá bem ser um caso de estudo, pois dificilmente encontraremos adeptos que passam do 8 ao 80 e do 80 ao 8 em menos de uma semana. Depois de longos anos de agonia, onde Portugal raramente se qualificava para uma grande competição internacional, apareceu em acção a geração de ouro. Entre 1996 e 2006, comandados por Figo, Rui Costa, João Pinto, Sá Pinto, Paulo Sousa, Vítor Baía, Fernando Couto, Pauleta, entre outros, a selecção das quinas conseguiu estabilizar as suas prestações num nível bastante elevado. Os portugueses cobravam muito, mas a selecção correspondia com bom futebol e resultados (não títulos, pois também não estávamos sozinhos na competição). Contudo, após a qualificação para o Euro 2008 (bastante sofrida), a prestação nesse evento (quartos-de-final) e a entrada de Carlos Queirós para o comando da selecção (sem o carisma de Scolari e incapaz de levar os adeptos atrás), houve um pequeno divórcio entre a selecção e os portugueses. Apesar de tudo, continuamos a não falhar uma fase final desde o Mundial 1998, mas as grandes exibições raramente apareceram depois de 2006.

Feita esta introdução, o que leva os portugueses a serem tão impacientes com a selecção nacional e com os seus atletas? A odiarem Cristiano Ronaldo, ao ponto de o quererem fora do 11 (é dos poucos jogadores que consegue resolver um jogo em pequenos pormenores)?

Cristiano Ronaldo é um dos melhores jogadores do Mundo e tem vindo a crescer de rendimento nos seus clubes ao longo dos anos, contudo, na selecção nacional não consegue atingir o nível que habituou os adeptos do Real Madrid e Manchester United. Não tem impressionado nas fases finais das grandes competições (excepção feita ao Euro 2004 e Mundial 2006), no entanto, tem sido peça fundamental para que Portugal chegue lá (22 golos nas fases de qualificação). Os portugueses exigem que o craque do Real Madrid apareça ao mesmo nível que apresenta no Bernabeu e à mínima falha, ao mínimo deslize e também ao facto de raramente cantar o hino (?), fica o "caldo entornado"... Não se compreende. Ainda mais porque é só um dos melhores jogadores da actualidade (o melhor português de sempre) e que leva a bandeira de Portugal mais longe (o jogador mais mediático do Mundo). Muitos questionam mesmo o "amor à camisola nacional" de Ronaldo, afirmando que não sente a selecção, "está a fazer frete", etc, contudo, esquecem-se que em 2005, um miúdo de 20 anos, que perdera o pai no dia 6 de Setembro, no dia seguinte estava na Rússia a disputar um jogo importante para a campanha de Portugal na fase de qualificação para o Mundial...

Não se percebe os constantes assobios quando os jogos não correm bem, o facto de andarem sempre "em festas" como alguém quis passar para a comunicação social ou o "big brother" que passa diariamente na SIC. O facto é que os jogadores não têm culpa dos contratos que a Federação faz o deixa de fazer. Aos jogadores são dadas as condições necessárias para trabalhar diariamente e, até ao momento, a prestação da selecção nacional não está abaixo das expectativas. Aliás, para muitos portugueses, ela estará muito acima, porque depois do Portugal 1-3 Turquia, muitas pessoas se apressaram a referir que Portugal ia sair do Euro com 0 pts, depois de ser goleado pela Alemanha (eram 5 ou 6 a zero). Esses adeptos, provavelmente, depois do Alemanha-Portugal até devem ter criticado a postura defensiva da selecção e o facto de não atacar o resultado... enfim. Outro ponto importante tem a ver com o facto de alguns adeptos apoiarem o jogo X ou Y, só porque são dos seus clubes. Isso não tem razão de ser quando estamos perante a selecção nacional (nacional quer dizer isso mesmo, do país todo!). Não existem clubes, associações, regiões, mas sim um país, o nosso país!

Não se pense que o futebol é a única vítima dos ataques dos adeptos portugueses. Em 2007, a selecção nacional de Rugby fez história, ao disputar o Mundial de França, sendo a única equipa amadora em prova. Contra selecções de outro calibre, os resultados gordos foram aparecendo, algo que não surpreendeu. Mesmo assim, havia quem se queixasse que os atletas foram "lá" envergonhar o nome de Portugal. A selecção de basquetebol também não fez melhor no Euro 2011. 5 jogos e 5 derrotas, algo que também não surpreende, pois o nível desta modalidade em Portugal é bastante baixo, se comparado com grande parte dos países europeus. Vieram novamente à baila as tristes figuras que a selecção nacional fez na Polónia. Um caso frequente e que acontece de 4 em 4 anos são os Jogos Olímpicos. Os portugueses desconhecem quem são a Telma Monteiro, a Vanessa Fernandes, o Marco Fortes, a Naide Gomes, etc, mas chegam os JO e o nível de exigência aumenta exponencialmente. Toda a gente exige medalhas aos nossos atletas, até porque " são pagos com os nossos impostos"... desconfiamos é se alguns portugueses exigem o máximo deles próprios no dia-a-dia...