J-League: Talento de sobra num campeonato com perfume brasileiro


O futebol japonês tem vindo a evoluir de forma consistente, com o apoio de técnicos da ex-Jugoslávia e de jogadores brasileiros (geralmente já em fase descendente, embora também existam casos de elementos que procuram relançar a carreira), desde que o país organizou o Campeonato do Mundo, em 2002. Já este ano, a selecção nipónica venceu a Taça da Ásia, derrotando na final a Austrália. Para se perceber a competitividade da J-League, basta olhar para a tabela classificativa da liga que agora termina: o Kashiwa Reysol (clube que na época passada venceu a segunda divisão) terminou com 72 pontos e sagrou-se campeão, o Nagoya Grampus foi o segundo colocado e somou 71 e no último lugar do pódio ficou o Gamba Osaka, com 70 pontos. À entrada para a última jornada, em que todos venceram os respectivos encontros, os 3 emblemas ainda estavam na luta pelo título. O Kashiwa Reysol acabou por vencer pela primeira vez na sua história o principal campeonato do Japão, sob orientação do técnico Nelsinho Batista. Uma equipa jovem, que contou com a experiência de Jorge Wagner e Leandro Domingues (o melhor jogador da competição) nesta longa caminhada (recordamos que a prova esteve interrompida após o tsunami que assolou o país, em Março).

Apesar do desenvolvimento do futebol japonês, não são muitos os jogadores nipónicos a actuar na Europa. A Alemanha, país onde brilham Kagawa, Hasebe e Okazaki (Usami está por empréstimo no Bayern, mas tem actuado pouco), é um dos destinos preferenciais, para além de Rússia (Honda) e Itália (Nagatomo). Num mercado a explorar (recordamos que o médio ofensivo do Dortmund custou apenas 350 mil euros), o Visão de Mercado aponta alguns dos nomes que brilharam na J-League e podem experimentar palcos maiores:

Takashi Usami - É um dos nomes de quem mais se espera desta nova geração do futebol japonês. Emprestado pelo Gamba Osaka ao Bayern de Munique, onde não tem tido grandes oportunidades (não por problemas de adaptação, mas sim pelo variado leque de soluções do emblema bávaro), o jovem de apenas 19 anos fez meia época na J-League, onde foi uma das figuras da sua equipa. Actuando preferencialmente sobre a esquerda, embora possa ocupar todas as posições do ataque, é veloz, dotado tecnicamente e possui uma enorme criatividade. Veremos se o Bayern avança para a sua contratação no final da temporada.
Genki Haraguchi - O Urawa Reds fez uma época decepcionante (garantiu a manutenção apenas na última jornada), mas garantidamente que não terá sido por falta de qualidade do médio de 20 anos, já internacional pela selecção AA. Um jogador semelhante a Usami, descaído sobre o flanco esquerdo, procura diagonais para o espaço central para aplicar o seu forte pontapé. É uma das maiores esperanças do futebol nipónico, com uma facilidade tremenda em mudar de velocidade, que precisa de adquirir maior intensidade no seu jogo para poder brilhar.
Mike Havenaar - A equipa do poderoso avançado nipónico (1,94) de origem holandesa (Ventforet Kofu) desceu de divisão, o que poderá precipitar, quem sabe, um salto para a Europa. Foi um dos melhores marcadores da J-League, fortíssimo no jogo aéreo, letal na grande área, está longe de ser um prodígio, mas provou ser um jogador interessante. Chegou a estar presente no Mundial sub-20 pelo Japão, em 2007 (actualmente tem 24 anos).
Hiroki Sakai - Um dos bons valores do Kashiwa Reysol, a par do avançado Masato Kudo. Um lateral direito moderno (também pode jogar a central), que dá muita profundidade ao seu flanco, não perdendo competência nas acções defensivas. O jogador de 21 anos apresenta boa estatura (1,83) e uma margem de progressão bastante interessante (integra a selecção japonesa de sub-23).
Yosuke Kashiwagi - É juntamente com Haraguchi o melhor jogador do Urawa Reds (Naoki Yamada tem potencial mas ainda necessita de ganhar consistência), é por ele que passa todo o futebol ofensivo da equipa. Um médio centro esquerdino com muita qualidade de passe e visão de jogo (pode jogar a 8 ou a 10), que a defender preenche bem os espaços e revela capacidade de recuperação. Aos 23 anos, o internacional AA pelo Japão tem maturidade suficiente para se adaptar na Europa.
Yuki Otsu - Um jogador com um percurso semelhante ao de Usami. As boas exibições na J-League valeram-lhe uma transferência para o Borussia M'Gladbach, no entanto, tem tido poucas chances de demonstrar o seu valor na Bundesliga. As principais características do ex-jogador do Kashiwa Reysol são a velocidade de execução e o controlo de bola, que fazem dele um elemento bem acima da média. Actuando em zonas mais centrais ou sobre um flanco, o internacional sub-23 pelo Japão tem que ganhar maior objectividade no seu jogo.
Tadanari Lee - Foi dele o golo que deu o título ao Japão na Taça da Ásia, em Janeiro. Pelo seu clube, o Sanfrecce Hiroshima, fez um campeonato de grande nível, apontando golos para todos os gostos. O avançado de 25 anos tem ainda muito para dar ao futebol. Inteligente nas desmarcações, forte no jogo aéreo (em antecipação aos centrais contrários) e de remate fácil com os dois pés, pode marcar a sua posição no futebol japonês e quiçá experimentar outros campeonatos.

Para além destes jogadores, outros como Kensuke Nagai, Mu Kanazaki, Yuji Ono, Hiroshi Kiyotake e Genki Omae demonstraram potencial. Serão os problemas de adaptação um dos principais motivos para a ausência de aposta no mercado japonês, que é bastante acessível (traz igualmente benefícios em termos de marketing, nomeadamente divulgação do clube, venda de camisolas, eventuais patrocínios, etc)? Ou simplesmente os clubes não querem correr riscos e apostar em jogadores pouco conhecidos? Até que patamar poderá evoluir o futebol japonês?

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