Porto sem formação, Benfica sem portugueses, Sporting sem capacidade para contrariar a tendência...Soluções?

A quantidade inaudita de contratações de Benfica e Sporting (o Porto tem sido menos espalhafatoso, mas é o caso mais grave), abre novamente o debate sobre o papel do jogador português, a maneira como tem sido relegado para 2º plano e as consequências que isso acarreta  para a nossa selecção nacional. Depois de o Porto a época passada ter acabado a temporada sem nenhum jogador da sua formação no plantel (algo único na história do clube), 2011-12 com o empréstimo de Ventura e Castro o cenário não será diferente. Já no Benfica, com a saída de Coentrão o clube da Luz corre um sério de risco de jogar 95% das partidas na próxima época sem nenhum jogador português no 11. Por sua vez, o Sporting que era a excepção e de longe o melhor exemplo para o futebol nacional, não conseguiu resistir à tendência e contratou 12 jogadores (todos estrangeiros). Três clubes, três equipas que deviam ser exemplo para todas as outras a nível nacional, mas que com esta política em nada estão a contribuir para uma falta de identidade do futebol português. Algo que no imediato não preocupa, mas que daqui a uns anos (talvez 13, porque até ao Mundial 2022 o último ano que Ronaldo segundo o VM irá actuar, há uma boa base), quando os portugueses começaram a ver Portugal fora das grandes competições, irá preocupar...pode ser é tarde. No plano económico, está igualmente provado que o jogador português é dos que vende melhor no Mundo, como tal, esta aposta nula é uma má política de mercado (como querem vender jogadores como o Nani, Coentrão, Carvalho, se não apostarem neles?). Os outros clubes da Liga Zon-Sagres infelizmente dão continuidade a este flagelo e salvo algumas excepções o cenário para a próxima época é ainda menos animador. Como tal, parece-nos oportuno voltar referir o projecto que o Visão de Mercado elaborou para o futebol português e destacou no último mês de Setembro.

Soluções?

O Visão de Mercado sugere algumas soluções a aplicar pela Liga de Clubes, como forma a reduzir esta invasão de jogadores extracomunitários. As medidas são na nossa perspectiva realistas e de acordo com os padrões do futebol português. A saber:
- O número de inscrições na Liga ZON-Sagres fica fixado nos 27 jogadores, no entanto, desse número, pelo menos 5 jogadores terão que ter sido formados no clube (a mesma regra da UEFA: ter jogado pelo menos 3 anos no seu clube, entre os 15 e os 21 anos).
- Para equilibrar o número de jogadores portugueses no 11 inicial, sugerimos que obrigatoriamente em todos os jogos, as equipas coloquem 4 jogadores nacionais de inicio, como forma a que joguem pelo menos 64 portugueses no fim-de-semana desportivo. Esta medida, obrigaria os clubes nacionais a terem um plantel com pelo menos 10-12 jogadores nacionais, como forma de prevenir qualquer lesão ou castigo.
- Limitar as transferencias de jogadores do exterior para 8 ou 10 (desde que pelos menos 5 deles sejam internacionais por qualquer escalão de formação do seu país). Esta medida visa reforçar as trocas internas, fomentando a circulação interna do dinheiro e maior equilíbrio das contas dos clubes.
- Quanto à limitação de jogadores extracomunitários, consideramos essa medida um pouco xenófoba, preferindo a obrigatoriedade de utilizar jogadores nacionais, em vez de restringir a entrada de extracomunitários.

Em relação à II Liga, seria também razoável implementar a obrigatoriedade de inscrever mais jogadores portugueses (pelo menos 14 jogadores em 27, 5 jogadores da formação e 5 jogadores no onze inicial). Quanto aos escalões de formação, seria importante obrigar os clubes a utilizar pelo menos 8 jogadores nacionais no onze inicial, como forma de fomentar a formação de jogadores portugueses. É lamentável não conseguirmos estar de maneira assídua nas grandes competições juvenis (este Mundial sub-20 é a excepção), e pela forma como países como a Alemanha, Bélgica, França, Espanha e até a Inglaterra estão a trabalhar há muito perdemos o estatuto de potência ao nível da formação.

PS - Caso os 4 principais clubes nacionais utilizassem regularmente pelo menos 4 jogadores nacionais de inicio, formariam uma boa base de apoio para a selecção nacional, pois seriam 16 jogadores em competição acesa, quer na Liga Nacional, quer nas Competições Europeias. Quem ficava a ganhar era a selecção nacional!

Que medidas equaciona para uma melhoria do nosso futebol? O que acrescentaria ou retirava às ideias do Visão de Mercado para permitir evoluir a nossa Liga,  indirectamente ajudar o futuro da nossa selecção, e para dar mais condições ao jogador português? Recordamos que em 2004 (parece que foi há um século, mas foi há meia dúzia de anos) o Porto de Mourinho venceu a Liga dos Campeões com 9/10 portugueses a jogar assíduamente, como tal, a ideia de os clubes só poderem ser mais competitivos com jogadores estrangeiros não faz sentido. E se os nossos melhores querem sair, ao menos que se criem condições para outros apareceram e mostrar o seu valor...e para isso só actuando com regularidade.

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